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31 de outubro de 2011

34 por cento... de quanto?‏



Esse artigo foi desenvolvido por um amigo, estudante de economia, muitíssimo inteligente e com um pensamento crítico afiadíssimo, Leonardo Falabella.

Reproduzido na íntegra.



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Tem sido cada vez mais comum ouvirmos da imprensa reclamações sobre o peso da carga tributária brasileira, que seria alta demais. É comum ouvir alguns economistas dizerem que o Brasil tem uma carga tributária superior às de países desenvolvidos, sem que se ofereça serviços públicos à altura. É "Chega de tanto imposto" pra lá, "Impostômetro" pra lá, gente argumentando que a carga tributária brasileira seria suficiente para oferecer serviços básicos tão bons quanto os do primeiro mundo. Um tipo de dado que é frequentemente apresentado para sustentar este argumento é o seguinte:


O brasileiro paga mais impostos do que o espanhol, o australiano, o suíço, o japonês, e recebe de volta serviços muito inferiores. Pagamos mais e levamos menos: tudo culpa do Estado brasileiro, corrupto e ineficiente. Já que o Estado não é capaz de fornecer serviços de qualidade, devemos diminuir a carga tributária e deixar que o setor privado tome conta de mais setores, desonerando o "cidadão de bem".

Tudo na mais perfeita lógica... exceto por uma variável que está sendo omitida.

Pagamos 34% do nosso PIB em impostos. Os suíços, 29%. De um modo geral, separamos mais do nosso bolso para o Leão. Mas e os governos, arrecadam quanto? Em outras palavras: o governo brasileiro arrecada 34% de quê? E o suíço, 29% de quê?

Aí introduzimos uma variável nova: o PIB per capita em dólares, ajustado pela paridade do poder de compra. Com esse dado e a carga tributária em relação ao PIB, temos a seguinte informação: qual é o montante de dólares que cada país arrecada por habitante?


Bom senso é reconhecer que, de fato, o governo brasileiro tem muito menos para investir, por habitante, do que qualquer país desenvolvido. Não que o Estado brasileiro seja um primor de eficiência e isento de ladroagem, todos concordamos que isto está longe de ser verdade. Mas será mesmo que, não fosse por estes fatores nefastos da nossa classe política, teríamos condições de oferecer investimentos sociais tão bons quanto os do Japão, da Austrália ou da Suíça? Todos estes cidadãos trabalham menos para pagar impostos do que o brasileiro, mas seus governos arrecadam mais que o dobro ou até mais que o triplo em relação ao nosso.

Seja por ingenuidade ou desonestidade, alguns tentam nos vender a ideia de que o Estado brasileiro tem por obrigação proporcionar serviços de primeiro mundo, porque supostamente pagamos impostos como cidadãos de primeiro mundo. Prestar atenção aos fatos e questionar esta linha argumentativa com alguma dose de realidade é fundamental para o amadurecimento da discussão.

Quem sabe, caso o brasileiro ficasse mais atento a esse ponto, passaríamos a discutir o verdadeiro absurdo na nossa tributação: a regressividade. O Brasil é único o país da lista em que o pobre trabalha mais para pagar imposto do que o rico. Mas parece que isso não preocupa tanto aos que vivem bradando por menos impostos, não é mesmo?
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Por Leonardo Falabella, inspirado pelo professor Ario Zimmermann (UFRGS).

5 comentários:

  1. Ótimo então! Vamos cobrar dos cidadãos R$ 24 mil em impostos, mesmo eles recebendo R$ 11,1 mil!
    Justo não?

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  2. Kleber, fazendo uma conta bem grosseira (pois não vou considerar a PEA e sim a população total -dados de 2010), o volume de dinheiro em impostos é bem maior para o Brasil. São cerca de 4.920.305 noruegueses com renda per capta de US$23.952,37 que dá um total de US$117.852.965.872,85; em relação ao Brasil, somos 190.732.694 com renda per capta de US$3.827,69 que dá um total de US$730.065.625.496,86. Como disse, é uma conta grosseira, mas vamos adotá-la só para efeito de elucidação. Ou seja: a arrecadação do Brasil é um pouco mais de 6 vezes à arrecadação da Noruega. O problema maior, enfatizado no final do artigo pelo Leonardo Falabella é a regressividade. Infelizmente quem tem renda menor paga muito mais imposto do que aqueles que têm renda maior, além, claro, da incapacidade e inabilidade do nosso governo de usar bem os recursos pagos pela população.

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  3. Parabéns ao Leonardo pela análise e ao Phillip Souza pela resposta ao nosso amigo Kleber. O problema do Brasil sempre foi e sempre será de cunho cultural, pois temos em nossa educação o perfil de ficar reclamando de tudo e de todos e esperando que nosso governo nos dê em troca o que pagamos de imposto. Precisamos nos aperfeiçoar mais como profissionais capacitados e ainda mais como pessoas e cidadãos desenvolvidos com a urbanidade necessária para manter o equilíbrio do sistema, pois estamos sempre culpando alguém por nossos erros e tentando justificar nossas atitudes em prol do jeitinho brasileiro de resolver as coisas, ou seja, reclaman de corrupção, mas na hora que fazem algo errado se tiverem a oportunidade, enfiam a mão no bolso e resolvem a situação da maneira mais baixa possível.

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  4. Compartilho de seu pensamento, jcsalgon. Ficar esperando que o governo resolva nossas vidas é como esperar a vida passar diante de nossos olhos. Se o governo melhorar, ótimo! Se não, e daí?! Nós é que temos que fazer nossa parte no dia-a-dia, trabalhando, estudando, aperfeiçoando-nos como profissionais, ensinando bons valores para aqueles que estão próximos da gente e construir nossas vidas. No momento das eleições temos de ter a reflexão crítica necessária para eleger aqueles que -provavelmente- vão resolver/melhorar mais rapidamente e de forma mais eficiente as questões sociais, claro. Porém, depender das ações do governo... jamais! Obrigado pelos comentários!

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  5. Parabéns pelo post!
    Muito agradável de ler.

    Abços

    ITM

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