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30 de setembro de 2013

Tornando seus objetivos em metas (parte 1)


Nas últimas semanas tenho trabalhado na conclusão de um material para oficinas de educação financeira que tenho desenvolvido. Na segunda parte da primeira oficina, eu discorro sobre três assuntos: dois deles são ferramentas de controle financeiro (falo sobre fluxo de caixa pessoal e sobre balanço patrimonial pessoal) e o outro é sobre objetivos. A definição de objetivos, para ser mais exato.

Muitos de nós, vez ou outra, nos sentimos à deriva do mundo: trabalhamos pra caramba, mas parece que não saímos do lugar. Talvez, uma das principais razões seja porque você não investiu tempo suficiente no processo de definição de seus objetivos. Objetivos formais, bem estruturados, com sentido, com formas de mensurar sua evolução, palpáveis.

Certamente você já ouviu uma famosa frase de Shakespeare: “Se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve” (inclusive tem essa excelente performance, O Menestrel, que vale a pena conferir. Clique aqui). Pois bem, vamos determinar, definir e criar um lugar pra gente, só nosso. Afinal, se soubermos exatamente o que desejamos conseguir, poderemos concentrar os nossos esforços.


Por que definir objetivos?


Mas antes de começarmos, quero te lançar uma pergunta: por que definirmos objetivos? Não é mais fácil deixarmos a vida nos levar? Pode até ser... mas a vida pode nos levar a lugares que não gostaríamos. Além do mais, temos recursos limitados. Sim, todos temos 24 horas e o tempo é um recurso valiosíssimo que temos de aprender a aproveitá-lo muito bem, de preferência desde cedo (se ainda não se deu conta, sua passagem aqui na Terra é bastante rápida e quase não é notada no ‘todo’); outra recurso que é limitado é a nossa energia: um artigo da Fast Company mostrou, dentre outras coisas interessantes sobre nosso cérebro, que é impossível sermos multitarefas (acesse o link para a leitura do artigo completo, em inglês: clique aqui). Então aprume as velas e defina, por conta própria, seu rumo!

As metas são os degraus para que se alcancem os objetivos


Uma forma bastante eficaz de determinar seus objetivos é fazê-lo em níveis (eu mesmo fiz e vou dar exemplos pessoais logo adiante):
  • Primeiro você cria a sua “grande visão”, ou seja: aquilo que você quer fazer com sua vida (ou, digamos, nos próximos 5 ou 10 anos), e identifica os objetivos em grande escala que pretende alcançar;
  • Daí subdivide esses padrões em os alvos menores – que são as METAS – dos quais você deverá cumprir para alcançar seus objetivos;
  • Finalmente, depois de ter seu plano, você começa a trabalhar nele para alcançar as metas estabelecidas.


Parece ser simples e realmente é. Mas não significa que não dê trabalho para fazer.

Começamos a definir nossas metas olhando para nossos objetivos. Vamos por partes.


Passo 1: Definindo objetivos


O primeiro passo na definição das metas é considerar o que você deseja alcançar em sua vida – ou pelo menos, em um tempo significativo no futuro.

A definição de objetivos oferece a perspectiva global que molda todos os outros aspectos da sua tomada de decisão.

Para dar uma cobertura ampla e equilibrada de todas as áreas importantes em sua vida, tente estabelecer metas em algumas das seguintes categorias (ou em outras próprias que sejam importantes para você):

  • Carreira – Qual o nível que você deseja alcançar em sua carreira? O que você quer alcançar?
  • Financeiro – Quanto você quer ganhar, por quanto tempo? Como isso está relacionado com seus objetivos de carreira?
  • Educação – Existe algum conhecimento que você deseja adquirir em particular? Quais informações e habilidades você precisa ter para alcançar outros objetivos?
  • Familiar – Você quer ser pai? Se sim, como você vai ser um bom pai? Como você quer ser visto por um parceiro ou por membros de sua família?
  • Atitude – Há qualquer parte do seu modo de pensar que está te prendendo? Existe alguma etapa do caminho que seu comportamento lhe perturba? (Se sim, defina uma meta para melhorar o seu comportamento ou encontrar uma solução para o problema)
  • Saúde – Existe algum objetivo físico que você deseja alcançar? Você quer uma boa saúde na velhice? Quais os passos que você vai fazer para conseguir isso?
  • Lazer – Como você quer se divertir? Você deve garantir que alguns momentos de sua vida são para você!
  • Serviço voluntário – Você quer fazer do mundo um lugar melhor? Caso afirmativo, como?


Passe algum tempo refletindo sobre essas questões: tire uma tarde, um dia, vá para um parque calmo, crie seu momento para pensar sobre cada um desses aspectos deixando seus sonhos, suas vontades e anseios virem à tona. Em seguida, selecione um ou mais objetivos em cada categoria que melhor refletem o que você quer fazer. Depois, considere refinar sua seleção, cortando novamente para que você tenha um número pequeno de objetivos para que possa se concentrar, se for o caso. O poder de realização está em focar! (E convenhamos: não conseguimos ser eficientes e multifocais ao mesmo tempo). Ao fazer isso, certifique-se de que os objetivos definidos são aqueles que realmente deseja alcançar e não aquelas que os seus pais, familiares ou empregadores desejam que você alcance. Se você tem um parceiro (a), provavelmente você vai considerar o que ele ou ela deseja – porém, lembre-se: permaneça fiel a si mesmo – sempre!

Eu fiz isso. Tá certo que não fui a um parque, mas costumo caminhar e, de acordo com minha experiência pessoal, costumo pensar sobre diversas coisas enquanto caminho – parece que a mente trata de se tornar criativa e encontrar meios para solucionar meus problemas. Defini vários campos que considero, pelo menos no atual momento, importantes em minha vida: financeiro, carreira, educação, saúde, lazer, relacionamento íntimo, família, bens materiais – você pode imaginar que foi aquele tanto de coisa! Normal. Inclusive, recomendo que nesse momento só seu leve uma caneta e um caderninho para anotar suas ideias e inspirações. Essas informações são muito valiosas, pois refletem aquilo que você deseja fazer com sua vida de acordo com seu momento atual. Não vou falar sobre cada uma delas individualmente ou talvez nem aprofundar demais, porque tem coisa que é muito pessoal, mas vou selecionar algumas áreas para exemplificar o processo, ok?! Continuemos.

Mas, diante de tantas coisas importantes, como é que vou realizar tudo? Já disse e repito: O poder de realização está em focar! E quando falo isso significa que, mesmo diante de muitos objetivos importantes, é necessário priorizar.


Passo 2: Priorização


A maneira pela qual eu priorizei meus objetivos foi totalmente empírica e subjetiva. Porém, existe um método. E essa subjetividade não atrapalha? Não, claro que não. Na realidade ela é que vai ditar aquilo que você quer em sua vida. Bem isso.

Como disse, é necessário priorizar para poder forcar: esse processo tem o objetivo de definir aquilo que vai fazer a diferença não só nas áreas-foco, mas também nas outras, pois, querendo ou não, somos seres holísticos: não dá para mexer numa área sem afetar outra.
Mas como fazer isso? Uma maneira é relacionar cada área pensando como uma afeta a outra. Esse relacionamento, como disse, é totalmente subjetivo, mas com a descrição seguinte ficará mais claro como proceder.



Nossa, essa imagem está uma bagunça, cheia de setas” alguém deve ter pensado! Calma, calma que eu vou explicar.

Como disse, você deve fazer uma relação de como tal área afeta outra (nesse ponto você já tem que ter definido ao menos a ideia geral do que você quer em cada área, senão esse processo se perde, fica sem sentido). Por exemplo, vamos pegar o aspecto financeiro. Eu ganhar mais dinheiro afeta a forma como eu posso desenvolver minha carreira, pois posso ter acesso a melhores oportunidades, desenvolver/abrir algum negócio, dentre outras coisas; o financeiro também afeta minha educação, pois poderei custear cursos, eventos, aprimorar algum aspecto pessoal ou profissional em minha vida; também afeta meu relacionamento íntimo, pois com dinheiro posso ter acesso a novas e diferentes oportunidades de lazer, além de poder fazer coisas diferentes para meu companheiro com mais facilidade (não necessariamente precisa-se de dinheiro nessa área, mas não sou hipócrita em dizer que o dinheiro não ajuda); além disso, afeta a minha saúde: com minha situação financeira melhorada poderei fazer exercícios físicos com profissionais da área (por exemplo: musculação com personal trainer ou sessões de pilates, etc), poderei ter acesso a melhores médicos, e ter todo um aparato esportivo (bicicleta, por exemplo) que promovam a melhora de minha saúde; o financeiro, obviamente, afeta a aquisição de bens materiais; comprar um carro, uma casa, ou qualquer outro bem que desejar; e, também, afeta meu lazer: por exemplo, se valorizo fazer viagens para lugares diferentes, essas viagens provavelmente terão algum custo. Perceba que, nessa linha de raciocínio, o aspecto financeiro afetou diretamente seis áreas: carreira, educação, relacionamento íntimo, saúde, bens materiais e lazer. PROVAVELMENTE é uma área importante em minha vida, no atual momento.

Na medida em que você vai fazendo essas relações você vai criando áreas que afetam e áreas que são afetadas em sua vida. Nesse exemplo, perceba que, na minha avaliação subjetiva, a área de aquisição de bens materiais só é afetada pelo financeiro e não afeta nenhuma outra área (da mesma forma que família só é afetada pela área de relacionamento íntimo e não afeta outra).


De acordo com a imagem-exemplo, temos o seguinte panorama:


Definidas as relações, é chegada a hora de priorizar, determinando o peso da prioridade, conforme demonstrado a seguir:


Observe que do lado de quem afeta, a categoria FINANCEIRO ficou em primeiro lugar (azul), seguido de EDUCAÇÃO (verde); do lado de quem é afetado, o LAZER ficou em primeiro lugar (azul), seguido de CARREIRA e RELACIONAMENTO ÍNTIMO (verdes). Ou seja: temos um impasse. Daí segue-se a subjetividade, a reflexão de compreender o que é importante para você em sua vida, de acordo com o que determinou e definiu de forma mais geral no Passo 1. Nesse caso, optou-se por CARREIRA.

Diante disso, temos 4 áreas de atenção: FINANCEIRO, EDUCAÇÃO, CARREIRA e LAZER. Vale atentar que as três primeiras estão bastante correlacionadas, praticamente uma afetando a outra e gerando consequências positivas para as outras áreas, mesmo aquelas que não foram selecionadas como foco principal. Observe que as outras áreas também são importantes e também têm objetivos a serem cumpridos. Porém, serão, de certo modo, secundários perante as quatro áreas definidas pela seleção de prioridade.

Vou parar por aqui. Vocês já têm muita coisa pra pensar. Mas ainda não acabou: temos mais 4 passos (é, eu sei, tem muito mais coisa) para serem definidos e explicados, mas por enquanto já se tem muito “dever de casa”. No próximo post vamos falar de mais dois passos: definição e aplicação da técnica SMARTER e como definir metas menores, para que o objetivo principal fique mais palpável.

Até lá!

3 de setembro de 2013

A teoria do controle contra ativo

Artigo originalmente postado em Gestor FP.

No último post sobre autocontrole, discorremos sobre a importância de distinguirmos os conceitos dos efeitos de curto e longo prazos. Para ler o último post, clique aqui.

Neste post falaremos sobre a Teoria do Controle Contra ativo (Counteractive Control Theory ou CCT).

De acordo com a CCT, se intensificarmos a importância dos resultados de curto prazo poderemos aumentar a capacidade de escolher que decisão tomar de acordo com as metas de longo prazo, o que faz com que nos comprometamos com as atividades de curto prazo: ao reforçar a importância de se fazer um exame de sangue pensando na saúde no longo prazo, tanto uma pessoa que espera que o teste seja doloroso (e provavelmente será, pois psicologicamente ela considera o checkup aversivo) quanto outra que espera que o mesmo procedimento seja agradável o farão. Contudo, ao reforçar tal importância antes do teste impede que a pessoa que tem aversão recue de sua decisão.

A Teoria do Controle Contra Ativo (CCT) assume que as pessoas devem assumir os esforços pró-autocontrole de modo que eles sirvam de meios para alcançar as metas de longo prazo. Primeiro, esse esforço depende do valor dos resultados que se deseja a longo prazo. Quando tais objetivos de longo prazo não têm muito valor a motivação para se comprometer com eles é reduzida, fazendo com que os esforços para se controlar também se reduzam. Por isso se torna fundamental criar objetivos desafiadores, mas que também sejam relevantes em sua vida.

Em segundo lugar, o efeito dos resultados de curto prazo sobre o controle contra ativo não é monotônico, ou seja, não tem apenas um sentido: quando os custos de curto prazo de uma atividade são muito baixos as pessoas tendem a se sentir capazes de realizar uma atividade sem exercer autocontrole; quando os custos de curto prazo são extremamente elevados, as pessoas tendem a se sentir incapazes de realizar a atividade, mesmo que elas exerçam os esforços para se autocontrolar. Somente quando os custos de curto prazo de uma atividade são moderados que os esforços de autocontrole podem determinar se a atividade deve ser realizada.

Em terceiro lugar, as pessoas exercem o controle contra ativo ANTES, mas não após a realização de uma atividade. Antes de realizar uma atividade, o controle contra ativo pode ajudar as pessoas a escolherem e realizarem uma atividade. Depois de executar a atividade, o controle contra ativo (tal como reforçar a importância da atividade) só serve para reduzir algum arrependimento. A CCT prevê, portanto, que os resultados de curto prazo de uma atividade deveriam provocar o controle contra ativo antes e não após se comprometer com alguma atividade. Por exemplo, imagine que você está definindo o patrimônio que deve ser construído para que alcance a sua independência financeira e descubra que deve mudar de hábitos e talvez até reduzir seu padrão de vida para chegar lá: só que isso implica em abrir mão de consumo agora – é um processo bastante delicado, certo? Porém, se isso realmente for importante, atingir um patamar em que você pare de precisar de jogar o jogo do dinheiro, um patamar em que se torne dono absoluto do seu tempo, um patamar que você trabalha apenas naquilo que quer e porque gosta, talvez os custos de curto prazo tendam a ser melhor tolerados. Ou seja: o valor de se realizar tais mudanças devem ser enfatizados antes (e até durante) a realização do plano para independência financeira, mas não depois (se é que vai conseguir concretizá-lo).

Existe uma vasta literatura sobre diversas estratégias de autocontrole; Trope e Fishback propuseram 5 experimentos que avaliam o seguinte: (1) o efeito de penalidades monetárias de curto prazo caso o descumprimento das atividades de curto prazo afetem os resultados de longo prazo; (2) o efeito de recompensas contingenciais ou por performance que estejam relacionadas aos objetivos de longo prazo; (3) o efeito de desempenhar determinada atividade apesar do desconforto físico; (4) qual grau de desconforto que ativa a capacidade das pessoas se autocontrolarem; (5) o efeito de se elevar a percepção dos custos de curto prazo da atividade antes dela ser executada e não depois.

Sei que toda essa pesquisa tende a ser um assunto técnico, apesar disso, ela pode nos dar alguns caminhos para desenvolvermos nossas próprias técnicas para ativarmos nosso autocontrole e caminhar em direção aos nossos objetivos de longo prazo.

Por enquanto é só.

Até!