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23 de maio de 2011

Receitas para ficar doente

Talvez eu devesse escrever sobre finanças, inflação, investimentos ou qualquer outra coisa relacionada. Mas não desta vez. Estava lendo um artigo sobre saúde que vale a pena ser reproduzido na íntegra. Talvez alguns já tenham lido, mas o ponto é que, além de ter sido escrito por um especialista, ele retrata muitas "receitas" para a doença de forma bastante incisiva e sarcástica, mas que faz com que prestemos atenção. Vi que eu tenho algumas coisas a corrigir; vejam a lista e tirem suas próprias conclusões.


Receitas gerais para ficar doente

Por Dr.Marcio Bontempo

Embora seja possível fornecer-se receitas específicas para ser doente, apresentamos a seguir as dicas globais para que possamos ser doentes e sentirmo-nos pessoas comuns, iguais a todos:

1. Alimente-se desregradamente. Comer bastante carne, açúcar, refrigerantes, chocolates, docinhos, enlatados, salsichas, etc. Tudo isso é bom para provocar fermentações, putrefações intestinais sintomáticas ou não, baixa de resistência orgânica, acúmulos e demais determinantes de desequilíbrios que se assentarão com o tempo (antes produzindo fenômenos simples como dores, febres, azias ...). O ideal é comer também a toda hora. Isto é bom para alterar o ciclo biológico natural favorecendo a prisão de ventre, a obesidade, a pressão alta, as infecções e inflamações, os tumores, a ansiedade, a culpa, a barriga grande ...

2. Evitar os alimentos naturais, os cereais integrais, as frutas, os legumes, as raízes, o pão integral puro, o mel etc, pois favorecem a desintoxicação das sujeiras, além de fortalecerem o organismo e torná-lo mais saudável.

3. Alimente-se principalmente à noite, após as 22 horas, pois assim o organismo será forçado a trabalhar em regime de hora extra. Isto é excelente para o envelhecimento precoce, a obesidade, a gordura abdominal (não existe coisa melhor para a formação dos pneus abdominais de gordura que comer à noite e em abundância, principalmente queijos ... ). Também é bom para a pessoa acordar cansada e desenvolver falta de memória.

4. Manter sempre hábitos alimentares comuns como a velha feijoada de toda semana. A feijoada, usada com constância, é muito boa para desencadear, sem que o freguês perceba, os seguintes resultados: elevação do colesterol e dos triglicerídios, arteriosclerose, pressão alta, angina pectoris, reumatismo, artrite, gota, lipomatose, cistos sebáceos, envelhecimento precoce, distúrbios da vesícula biliar, gastrite, colite, enterite, hemorróidas, varizes, retenção de líquidos, distensão abdominal, glaucoma e uma grande quantidade de outras doenças. Para melhores resultados, aconselha-se a utilização de feijoada em lata, cujos efeitos são mais intensos ainda. Ela já vem com antibióticos. E ninguém paga nem um centavo a mais por esta vantagem!

5. Freqüentar sempre e constantemente os bons restaurantes. Viver o prazer da boa mesa. Afinal, mais vale viver pouco, mas intensamente, do que viver muito, mas monotonamente, comendo arroz integral ...

6. Evitar os restaurantes naturais, vegetarianos, macrobióticos, os sucos vegetais, saladas, se quiser ser doente.

7. Usar açúcar branco e cafezinho em abundância. Isto favorece não somente a baixa de resistência, mas o famoso sugar blues, a doença do açúcar: depressão, melancolia, adinamia, fraquezas, instabilidade emocional, fomes repentinas, ansiedade ... tudo ajudado pelo excesso de cafezinhos que contribuem para o nervosismo e irritação, etc. Ideal para escritórios ...

8. Evitar ginástica, o trabalho físico, a movimentação do corpo. Levar uma vida sedentária, longe dos esportes e do contato com o ar puro e a natureza. Preferir habitar os grandes centros poluídos...

9. Participar com freqüência de festas intensas, banquetes. Trocar o dia pela noite e comer bastantes excessos. Morar em apartamentos úmidos, longe da luz do sol.

10. Evitar a sauna, a massagem profissional [...], a dança, a expressão corporal, o Tai-Chi-Chuan, as artes marciais.

11. Fumar uma grande quantidade de cigarros. Bom para produzir vários problemas, entre eles, as alterações nervosas, a bronquite tabágica, alterações de circulação arterial, diminuição do oxigênio do sangue e dos tecidos (grande parte das doenças modernas ocorrem num organismo pobre de oxigênio ...) o câncer, a gastrite, inapetência, enfisema pulmonar, perturbações da memória, alterações do sabor e do olfato, etc. Mas vale o prazer de fumar, não é? Afinal, fumar é uma questão de bom senso... mesmo que no Brasil o hábito seja responsável por cerca de 100 mil mortes anuais e produziu no mundo a cifra ínfima de trinta milhões de mortes até o ano 2000. Hoje existem cerca de trezentos milhões de pessoas em todo o globo que sofrem muito por enfisema pulmonar e demais problemas derivados do cigarro.

12. Beber álcool com freqüência. Isto é normal. O álcool está presente nos lares, nos escritórios, acompanha as grandes festas, favorece os grandes negócios, acalma e combate a ansiedade. Mesmo sabendo-se que ele é uma grande ilusão e que "tudo o que estimula termina por deprimir", e que na verdade o álcool é depressor do sistema nervoso, convém usá-lo para obter os seguintes males: neurite alcoólica, perturbações visuais, diminuição da resistência orgânica, hepatite, cirrose hepática, pressão alta, inflamações, câncer do estômago, irritação da mucosa, agressividade, tendência ao enfarte. No extremo pode ocorrer delirium-tremens, coma e morte. Quem quiser passar por estas experiências deve consumir muito álcool. Usado com moderação e com sapiência ele não é muito capaz disto.

13. A qualquer simples sintoma como febre, dor de cabeça, mal-estar, lançar mão de drogas alopáticas. Evitar as ervas medicinais, a homeopatia, o do-in, o relaxamento, o jejum, etc.

14. Seguir estritamente as ordens dos médicos sem nenhum comentário, sem questionamento. Tomar todos os remédios, mesmo que produzam efeitos colaterais, piores que o problema ou sejam capazes de gerar mais doenças, além daquela que está sendo tratada. Aceitar também as cirurgias indicadas sem procurar outras opiniões profissionais.

15. Assistir sempre bastante televisão, acompanhar as novelas, acreditar piamente nos noticiários que a televisão emite. Uma família inteira assistindo à TV junta é um excelente método de alienação conjunta. A TV em excesso é excelente para embotamento do raciocínio. Se não estiverem passando programas interessantes, deve-se jogar videogame com as crianças ou ter um vídeo-cassete comum, bom estoque de filmes de violência, de guerra ou pornográficos. Como alternativas, existem computadores com programas alienantes de excelente qualidade. Para completar, convém assistir à televisão comendo biscoitos doces em abundância e a todo instante ir beliscar uma coisinha na geladeira. Para engordar é ótimo.

16. Comprar e consumir tudo o que é indicado pela propaganda na TV, rádio, outdoors e demais veículos de vendas.

17. Levar sempre as crianças em festinhas de aniversário onde reinam as guloseimas cariogênicas, descalcificantes, redutoras de resistência orgânica, favorecedoras das amigdalites, tosses, febres, bronquites, crises de asma, urinas noturnas, dificuldades escolares de fundo alimentar, com aditivos corantes e aromatizantes cancerígenos. Melhor até é organizar as festinhas em sua casa mesmo. Facilita.

18. Andar sempre na moda. Sapatos bem altos são bons para produzir alterações da coluna, como escolioses, lordoses, sifoses, dores musculares, etc. Cosméticos, xampus, brilhos, bases, cremes sintéticos, etc., embelezam mas condicionam a pele, não a deixam respirar direito e a envelhecem. Usá-los é no entanto necessário para manter o status. Evitar os cosméticos naturais, as máscaras biológicas, a sauna, os banhos de luz, a hidroterapia, a acupuntura cosmética, que são benefícios para a pele.

19. Perseguir obstinadamente ideais como a fama, a fortuna, o reconhecimento público, a notoriedade. São formas de busca ansiosa que não trazem nenhum sentido existencial verdadeiro, nenhuma realização interior autêntica, mas atraem a inveja, o ciúme, a inimizade, a falsa amizade. É graças a elas que temos hoje um mundo em pé de guerra.

20. Ter sempre uma vida tensa, agitada, ansiosa, mas ... plena de realizações profissionais, mesmo que em casa esteja acontecendo um inferno. É uma receita para morrer mais cedo através do stress, da estafa, do enfarte, da úlcera, dos distúrbios psíquicos e sexuais, da neurastenia.


Serviço:
Obra: Receitas para ficar Doente e Novas Receitas para Ficar Doente - A ironia dos hábitos alimentares, da medicina e da vida atual.
Autor: Dr.Marcio Bontempo (www.drmarciobontempo.com.br)

1 de maio de 2011

Quem disse que "santo de casa" não faz milagre?

Essa é uma história real. Não vou colocar os valores certos: eles podem estar divididos por dois, multiplicados por quatro ou de qualquer outra forma, isso para preservar a identidade das pessoas dessa história. Porém, as taxas serão aproximadas.

Há algumas semanas eu comecei a  resolver os problemas financeiros de uma família. De acordo com o que colhi e tive acesso (acesso irrestrito, devido a confiança estabelecida) não se sabia absolutamente quanto entrava de receita, nem quanto saía e pior: para onde saía. Uma situação delicada de descontrole que, a meu ver, muitas famílias brasileiras enfrentam tais problemas e dificuldades - muitas vezes até piores.

A primeira coisa que fiz foi identificar o consumo e valor financeiro gasto nas necessidades básicas dessa família: alimentação. Levantamos valores para padaria, feira, açougue, supermercado - nesse último tive o privilégio de ter a experiência de saber quanto custa cada coisa dentro de uma casa, afinal eu não tinha feito uma lista de compras e efetuado a compra em um supermercado. Depois, levantamos informações referentes ao custo básico para toda família: conta de energia, conta de água, telefonia, internet, gás, enfim, coisas que são indispensáveis na vida de hoje. Identifiquei algumas inconsistências e erros que foram cometidos: na mesma casa havia duas linhas de telefone (uma delas com internet banda larga), sendo que uma poderia ser cancelada, já que na outra poderia se colocar internet junto - isso era um luxo desnecessário. Entre os telefones móveis, um deles era totalmente desnecessário e foi cancelado - uma economia que fazia sentido, claro. Daí, tive acesso aos cartões de crédito e a situação financeira do chefe da família: dois cartões de crédito com faturas elevadíssimas, três créditos pessoais em débito automático, quatro seguros de vida que cobriam a mesma coisa, e vários outros cartões (alguns private labels, outros de bancos em que não é necessário ter conta corrente para se ter). Essa parte estava bem bagunçada...

Fui estruturando o orçamento doméstico e entendendo o comportamento de consumo, já que tive acesso a todas as contas em questão. Alguns desvios nas contas básicas, mas bem esporádicos... Mas o que me preocupou bastante foi o comportamento com o cartão de crédito: nas faturas analisadas desde 2007, aconteceram ao menos quatro parcelamentos de fatura motivados por impossibilidade de quitação integral desse instrumento financeiro. Conversando com essas pessoas pude entender que, de fato, muitas vezes as coisas fugiam do controle: e isso levava a se pagar apenas o valor mínimo - a pior coisa a se fazer quando se trata de cartões de crédito.

Daí eu já tinha um cenário:
  • contas de alimentação: R$ 840,00 +/-;
  • contas básicas (água, luz, telefone, etc): R$ 350,00 +/-
  • crediários no banco: R$ 665,00 +/- (com prazos diferentes cada um dos três - um no início, outro no meio e outro no final do mês e débito automático)
  • faturas dos dois cartões de crédito: R$ 4.600,00 +/-
  • lançamentos futuros: R$ 3.740,00 +/-
  • outras dívidas: R$ 580,00 +/-
Resumindo: a coisa estava complicadíssima.

Após levantar quanto e para onde saía o dinheiro, tratei de levantar as receitas. O chefe da família é empresário, portanto autônomo, e então tem receitas variáveis ao longo do ano. Tive acesso a todos os contratos firmados nos dois últimos anos e pude estabelecer uma média de receita bruta e líquida: essa última no valor médio mensal de R$ 1.800,00 +/-. Nesse caso, entendo, é delicado manter esse valor fixado, porque, afinal, a renda é variável, e depende dele e dos contratos ainda a serem fechados nos próximos meses. Mas, de qualquer forma, tinha-se que saber, em média, quanto entrava por mês.

Outra atitude que foi acertada e realizada foram os cortes dos itens desnecessários: cancelamento de uns três ou quatro cartões Private Label, cancelamento da linha de telefone extra -que era desnecessária- e cancelamento de um telefone celular. Além disso, nas contas da empresa identificamos alguns serviços que também não eram necessários e estavam sendo pagos, pois eram considerados como impostos: portanto, cancelados. Cancelamos os seguros e, em breve, faremos um que cubra de forma consciente o que realmente for necessário. E, por fim, o mais doloroso: as dívidas.

Esse item passou por várias simulações e possibilidades. Os crediários estavam assim: o mais antigo já estava na metade, faltavam 14 parcelas de R$ 232,00 (30 parcelas no total à taxa de 4,97% a.m.) ; no segundo faltavam ser pagas 40 parcelas de R$ 282,00 (48 parcelas no total à taxa de 5,20% a.m.) ; e o terceiro faltavam 11 parcelas de R$ 151,00 (14 parcelas no total à taxa de 5,85% a.m.). Valores elevados, com taxas altas... A dívida real (sem os juros) dos crediários eram, respectivamente: R$ 2.300,00, R$ 4.630,00 e R$ 1.200,00. Os cartões de crédito estavam em situação tão delicada quanto: a bandeira A com dívidas totais (fatura + lançamentos futuros) de R$ 3.760,00; bandeira B com dívidas totais (fatura + lançamentos futuros) de R$ 4.580,00. Dívidas com banco e administradoras: R$ 16.470,00.

Um belo descontrole, não!? E a família nem tinha noção de que esse era o tamanho da complicada situação financeira. Bem, eu teria que encontrar uma solução - e rápido, antes que a próxima fatura do cartão viesse e realizasse seu processo de incidir 13% sobre o saldo remanescente da fatura, caso ela não pudesse ser paga por completo.

Conversando, calculando, simulando, conseguimos encontrar uma linha de crédito mais barata que todas as dívidas: a 4,30%. E a instituição financeira concedeu todo o crédito necessário para se quitar por completo esse fantasma destruidor de lares: dívidas. Conseguimos um crédito de R$ 17.000,00 (já descontados IOF e TAC -taxa de abertura de crédito). Quitou-se TODAS as dívidas por completo. Em realidade, trocamos uma dívida cara (um tanto de dívidas...) por uma mais barata. Vai se pagar juros? Sim, vai. Por outro lado, parou-se de gastar com juros elevados dos cartões, a família está com um "orçamento de guerra", como disse o professor Fábio Gallo da PUC-SP, já se tem prazo para término desse mal que se arrastava há quase ou mais de uma década, estão com um orçamento consciente, e essa tranquilidade sairá por 18 parcelas de R$ 1.375,00. Depois disso (se não for antes!), vamos dar os passos rumo à independência financeira dessa família: realidade totalmente factível, especialmente pelo hábito que se criará de "pagar" (em realidade investir) ao menos parte do que será gasto mensalmente com essas dívidas.

Detalhe: os valores estão diferentes, mas esse caso de sucesso é o da minha família.

Agradeço muito à minha amiga e sócia, Priscilla Cavalcante, pelo apoio, orientação e, especialmente, o trato nas relações: estive como mediador dessa história em que um erro, uma palavra mal colocada, qualquer desentendimento poderia abalar o casamento de mais de 25 anos de meus pais. Muito obrigado.

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