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25 de fevereiro de 2010

Valuation - parte 3

Avaliação baseada em Renda

O dividend yield é o percentual do preço da ação da companhia que é pago na forma de dividendos durante o ano. Por exemplo, se uma companhia paga $1,00 em dividendos por trimestre e está sendo comercializada a $100, ela possui um “dividend yield” de 4%. Quatro trimestre pagando $1 dão $4, dividido por $100 resulta em 4%.

O “Yield” produz um efeito curioso sobre as ações de uma companhia. Muitos investidores que desejam renda começam a comprar determinado papel quando ele atinge patamares acima de um determinado número mágico. A performance histórica da Abordagem de dividendos do Dow foi confirmada pelo trabalho de Jim O'Shaugnessey que mostra que uma carteira constituída de ações de grande capitalização, com dividendos acima da média supera o mercado através dos tempos.

Algumas pessoas como Geraldine Weiss, investem em ações baseados no yields que elas deveriam ter. Weiss mede o Yield médio histórico e aconselha investir em ações de companhias quando seu Yield atingir a faixa subavaliada. Por exemplo, se uma companhia possui um dividend Yield histórico de 2,5% e está pagando atualmente $4 em dividendos, a ação deveria estar sendo comercializada em torno dos $160. Qualquer um interessado em aprender mais sobre o método de investimento de Weiss orientado para a avaliação de dividendos deveria ler o livro “Dividends Don't Lie”. A forma mais simples de tirar vantagem de ações que estejam subavaliadas em termos de dividendos é empregando o Dow Dividend Approach (que é uma estratégia de investimento baseada na compra das ações que pagam os mais altos dividen yields no índice Dow-Jones - DJIA).


Avaliação baseada em assinantes


Às vezes uma companhia pode ser avaliada pelo número de assinantes, ou pela conta de seus clientes. A avaliação baseada em assinantes é mais comum nas companhias de comunicação e mídia, que gerem renda mensal regular – como celulares, TV à cabo e outras companhias on-line. Normalmente, numa companhia que é avaliada pelo número de assinantes, os analistas calculam a média de suas receitas por assinante durante toda a vida da empresa e depois avaliam a companhia toda baseado nesse método. Se a AMERICA ONLINE [NYSE: AOL] possuísse hoje seis milhões de membros e cada um deles mantivesse sua assinatura por 30 meses, em média, gastando $20 por mês, a companhia valeria seis milhões vezes $20 vezes 30, ou seja, $3,6 bilhões. Esse tipo de avaliação é também empregado para TVs à cabo e companhias de telefonia celular. Por exemplo, a Continental Cablevision foi comprada por $2000 por assinante.

Outra forma de avaliar uma companhia em relação aos seus membros é baseada nas suas contas. Nos setores de saúde e informática, as companhias são adquiridas baseado nas contas que possuem. Essas aquisições normalmente ignoram lucros e vendas passadas da companhia, focando-se, ao invés disso, nos receitas adicionais que podem ser geradas através dessas novas contas. Embora avaliações baseadas em membros pareçam bastante confusas, sua mecânica é única dentro de cada indústria. Estudando a história das últimas maiores aquisições um investidor pode dizer como o modelo de avaliação por membros funcionou nas últimas fusões e poderá sugerir como elas poderão funcionar no futuro.




Enfim, recomendo muito a todos que queiram investir que estudem Valuation. Os três posts só servem para dar uma idéia e, além do mais, é com o tempo e a prática (bem como a sensibilidade individual) que se aprende a fazer boas e consistentes Valuations. Então pratiquem! E estudem, claro!


Veja também:

Valuation - parte 1
Valuation - parte 2

20 de fevereiro de 2010

Valuation - parte 2

Avaliação baseada no Fluxo de Caixa

Fluxo de caixa (EBITDA) e despesas não financeiras
Apesar da maioria dos investidores individuais nunca terem ouvido falar em fluxo de caixa, essa é a forma de medida mais usual feita por bancos de investimento para avaliar uma companhia pública e/ou privada. Fluxo de caixa é literalmente o caixa que flui através de uma companhia naquele trimestre ou ano depois de subtraídas todas as despesas fixas. O Fluxo de Caixa é normalmente definido como Lucros Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (EBITDA ou LAJIDA) (O Fluxo de Caixa dentro desse conceito não deve ser confundido com o Fluxo de Caixa Livre, que é uma medida importante para os investidores “Rule Maker”)

Por que olhar para os lucros antes dos juros, impostos depreciação e amortização? Porque, da mesma forma que os impostos, as despesas e receitas financeiras, são colocadas de lado, o fluxo de caixa foi criado para olhar para o negócio sob o ponto de vista operacional e não das despesas ou receitas secundárias. Principalmente os Impostos que dependem de detalhes tributários em um ano específico e podem causar oscilações muito grandes na capacidade lucrativa de uma empresa. Por exemplo, a CYBEROPTICS [Nasdaq: CYBE] - indústria de sensores ópticos e sistemas de controle para o mercado de equipamentos eletrônicos de montagem - usufruiu de uma alíquota de 15% em 1996, mas, em 1997, a alíquota mais do que dobrou. Essa situação superdimensionou o lucro da CyberOptics' no primeiro ano e subestimou no segundo, mascarando a verdadeira situação operacional da companhia. Assim, um analista cuidadoso poderia empregar também os lucros antes dos juros e impostos (EBIT) ao invés de empregar o lucro líquido para avaliar o crescimento da companhia. O EBIT é também ajustado de despesas ou receitas excepcionais que só venham ocorrem uma vez.

A depreciação e a amortização são chamadas de despesas não financeiras, porquê a companhia não gasta realmente nenhum centavo com elas. A depreciação é uma convenção contábil para fins fiscais que permite que a empresa desconte do imposto de renda as despesas de capital sobre plantas e equipamentos quando eles vão ficando mais velhos e menos úteis. A amortização acontece normalmente quando uma companhia adquire outra, pagando um prêmio extra em cima de seu Patrimônio Líquido. Um número que ela contabiliza no seu balanço patrimonial como “goodwill”, sendo forçada a amortizá-lo em um determinado período de tempo, de acordo com as convenções contábeis. Quando formos olhar para o fluxo de caixa de uma empresa faz sentido colocarmos de lado algumas convenções contábeis que possam mascarar sua capacidade financeira.

Como e Quando usar o Fluxo de Caixa
O Fluxo de Caixa é mais empregado para avaliar empresas que possuam altas despesas de capital e companhias que possuam muita amortização para baixar. Companhias de TV à cabo como a TIME-WARNER [NYSE: TWX] e a TELECOMMUNICATIONS INC. [Nasdaq: TCOMA] apresentaram lucros negativos por vários anos devido as grandes despesas de capital necessárias para construir suas redes de cabo, embora seus fluxos de caixa estivessem na realidade crescendo. Isso porquê um valor muito alto de amortização e depreciação estava mascarando sua habilidade de gerar caixa. Compradores sofisticados desse tipo de empresa empregam o fluxo de caixa como forma de avaliar uma aquisição, dessa forma faz sentido para os investidores empregá-lo também em suas avaliações.

A forma mais comum de se avaliar o EBITDA, é através do Fluxo de Caixa Descontado, que é uma aplicação em forma de planilha que não conseguiríamos explicar aqui sucintamente. O Valor Econômico Adicionado (EVA) é outra vertente sofisticada do fluxo de caixa que olha para o custo do capital e para o retorno que a empresa consegue produzir acima do custo de capital como forma de separar aqueles negócios que geram dinheiro de verdade daqueles que apenas consomem dinheiro. Uma forma mais direta do investidor individual empregar o fluxo de caixa é entender como os múltiplos do fluxo de caixa funcionam.

Em uma aquisição ao mercado, seja ela pública ou privada, o múltiplo preço-fluxo-de-caixa fica normalmente em torno de 6 a 7. Quando esse múltiplo atinge a faixa de 8 a 9, normalmente a aquisição é considerada cara. Alguns aconselham a venda da companhia quando esse múltiplo ultrapassar os 10. Numa aquisição alavancada (LBO), o comprador procura não pagar mais do que 5 vezes o fluxo de caixa porque grande parte da aquisição está sendo financiada por endividamento. A companhia compradora tenta efetuar o pagamento de todo dinheiro empregado para fazer a aquisição em 6 anos, procurando limitar-se a companhias que possuam um EBITDA do dobro ou superior aos juros do financiamento, e possuam um valor de financiamento total de no máximo de 4,5 a 5,0 vezes o EBITDA.

Os investidores interessados em estudos mais aprofundados sobre EBITDA, Fluxo de Caixa Descontado e EVA aconselho a compra de um livro especializado; de qualquer forma, em outra oportunidade detalharei melhor esses itens. Como esses são os métodos empregados por companhias interessadas em aquisição, faz todo sentido familiarizar-se com a lógica por trás deles, porquê podem ser úteis para identificar barganhas antes da multidão.


Avaliação baseada em Patrimônio Líquido

O que é Patrimônio Líquido?
Patrimônio Líquido é uma forma engraçada de dizer “tudo que está lá”. Não importa se são coisas tangíveis como caixa, ativos circulantes, capital de giro, dinheiro dos acionistas, ou qualidades intangíveis como administração, marca; Patrimônio Líquido é tudo que uma companhia possui caso ela parasse de vender seus produtos e saísse do negócio amanhã.

Tradicionalmente os investidores que procuram comprar companhias com uma quantidade expressiva de Patrimônio Líquido como garantia de valor são um grupo de paranóicos que estão procurando ter algo para receber caso a companhia vier a ser liquidada. Na era do consumo em massa dominado pela televisão ajudaram aos intangíveis como nomes e marcas criarem fossas quase impenetráveis ao redor do negócio, os investidores contemporâneos começaram a esticar os limites do Patrimônio Líquido enfatizando as qualidades dos valores não tangíveis e concretos, mas que são absolutamente vitais para o futuro da companhia.

O Balanço Patrimonial: Caixa e Capital de Giro
Você gostaria de compra um dólar de ativos por um dólar de valor de mercado? Ben Graham gostava. Ele desenvolveu um dos filtros mais famosos para procurar por companhias que tinham mais dinheiro na mão do que valor de mercado. Primeiramente, Graham procurava pelo caixa, equivalentes e investimentos de curto-prazo da companhia. Dividindo esse número pelo número de ações fornecia a ele uma idéia de quanto do preço da ação é constituído de dinheiro que a companhia possuía nas mãos. Comprar uma companhia com bastante dinheiro em caixa pode trazer uma série de benefícios – dinheiro pode desenvolver produtos, fazer aquisições estratégicas e pagar executivos de grosso calibre. Mesmo uma companhia que pareça ter perspectivas futuras limitadas pode ser bastante promissora se tiver bastante dinheiro nas mãos.

Outra medida de valor é o Capital de Giro que a companhia possui em relação a sua capitalização de mercado. Capital de Giro é o que sobra depois que você subtrai os Passivos Circulantes dos Ativos Circulantes. Capital de Giro são os fundos que uma companhia possui para conduzir seus negócios do dia-a-dia. Se você conseguir comprar uma companhia por um preço próximo do seu capital de giro, você terá comprado um dólar de ativos por um dólar de preço de mercado – não é um mau negócio também. Assim como dinheiro pode comprar várias coisas boas, o Capital de Giro também pode.

Patrimônio Líquido e Valor Patrimonial
O Patrimônio Líquido é uma convenção contábil que inclui os ativos líquidos (NT – Ativos livre de Passivos) de uma companhia como dinheiro, ativos permanentes como imóveis, e também os lucros retidos. Isso é uma medida global de quanto valeriam os ativos da companhia caso ela fosse liquidada. Não importa se esses ativos são prédios, escrivaninhas, camisetas velhas no estoque ou descargas de vaso sanitário no almoxarifado.

O Patrimônio Líquido ajuda a avaliar uma companhia quando você descobre seu valor patrimonial. O valor patrimonial de uma companhia pode ser encontrado na sua contabilidade. Para calcular o valor patrimonial por ação, pegue o Patrimônio Líquido da companhia e divida-o pelo número de ações existentes. Se agora você dividir o preço da ação pelo seu valor patrimonial por ação, encontrará o Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP).

Valor Patrimonial é um conceito claro. Quanto mais próximo você comprar alguma coisa do seu valor patrimonial, melhor para você. Nos dias de hoje, o valor patrimonial é uma coisa que deve ser vista com cuidado, porque a maioria das companhias avaliam seus estoques e os efeitos da inflação e deflação sobre suas propriedades de acordo com as deduções que pretendem obter no imposto de renda; embora para companhias financeiras como bancos, financeiras, corretoras, empresas de cartões de crédito, o valor patrimonial ainda seja bastante relevante. Por exemplo, no setor bancário as aquisições são sempre efetuadas em cima de valor patrimonial, com os depósitos e empréstimos sendo tomados sobre algo entre 1,7 a 2,0 do valor patrimonial.

Outro uso do Patrimônio Líquido é para determinarmos o Retorno sobre o Patrimônio Líquido, ou ROE. Retorno sobre o Patrimônio Líquido é uma medida de quanto, em termos de lucro, uma companhia consegue gerar em quatro trimestres comparado com seu Patrimônio Líquido. O ROE é medido em termos percentuais. Por exemplo, se a companhia XYZ fez um milhão de dólares de lucro no ano passado e possui um Patrimônio Líquido de dez milhões, então ela possui um ROE de 10%. Alguns empregam o ROE como um filtro para encontrar companhias que podem gerar grandes lucros sem muito investimento de capital. A COCA-COLA [NYSE: KO], por exemplo, não precisa de muito investimento para atualizar seu equipamento - o processo para fabricar o seu xarope não se modifica muito com o avanço tecnológico. Na verdade, companhias com altos ROEs são tão atrativas para alguns investidores que alguns deles farão uma média do ROE e com o crescimento esperado dos lucros para encontrar um múltiplo justo. É esse motivo pelo qual companhias farmacêuticas como a MERCK [NYSE: MRK] conseguem crescer 10% ou mais a cada ano e mesmo assim são comercializadas consistentemente acima de 20x seus lucros.

Intangíveis
A marca é o elemento mais intangível dentro de uma companhia, mas talvez seja um dos mais importantes para sua a sobrevivência no futuro. Se todos os MCDONALD'S [NYSE:MCD] do mundo desaparecessem amanhã, a companhia poderia simplesmente pegar alguns empréstimos e reconstruir seu império e voltar a ser uma potência mundial em alguns meses. O que permitiria ao McDonald's fazer isso? É a sua presença na nossa mente coletiva – o fato é que se dez pessoas fossem obrigadas a dizer o nome de uma lanchonete “fast food”, nove iriam dizer McDonald's, sem hesitar. A companhia possui uma marca muito conhecida e isso agrega um tremendo valor a ela, apesar de não poder ser quantificado.

Alguns investidores se preocupam com marcas, particularmente em indústrias emergentes que tradicionalmente sobreviveram sem elas. A genialidade da INTEL [Nasdaq: INTC] e da MICROSOFT [Nasdaq: MSFT] é que conseguiram transformar o nome de suas companhias em marcas que dão a elas uma tremenda vantagem sobre a concorrência. A marca é também transferível para outros produtos – a razão pela qual a Microsoft pode se tornar uma potência em “online banking”, por exemplo, é porque tem um enorme patrimônio em marcas de aplicativos e sistema operacional. É como se o Leite Moça fosse entrar no mercado de doce de leite. Seria necessária muito pouca propaganda para o produto crescer.

As marcas necessitam de uma administração competente para poder liberar valor. Se uma marca sofre por causa de incompetência administrativa, como foi o caso da AMERICAN EXPRESS [NYSE: AXP] no começo da década de 90, ou da Coca-Cola no início da década de 80, então muitas pessoas começam a duvidar se o valor da marca se mantém intacto. Ironicamente, as maiores oportunidades de compra de marcas ocorrem quando as pessoas param de acreditar nelas por alguns momentos. Marcas esquecidas normalmente conseguem sobreviver aos traumas de curto-prazo.

Os intangíveis podem significar também que as ações de uma determinada companhia conseguem ser comercializadas a um prêmio extra sobre a sua taxa de crescimento. Uma companhia com margens gordas, com um “market share” dominante, batendo consistentemente as previsões dos analistas e um balanço patrimonial sem dívidas pode comercializar a um múltiplo mais alto que a sua taxa de crescimento poderia sugerir. Embora os intangíveis sejam difíceis de quantificar, não quer dizer que eles não tenham um grande efeito sobre o preço da ação da companhia. O único problema com companhias que possuam muitos ativos intangíveis é que qualquer sinal de problemas poderá fazer com que todo o prêmio venha a desaparecer.

A Companhia em pedaços
Finalmente uma companhia pode valer mais aos pedaços do que inteira. Isso pode acontecer porque existem ativos escondidos que a maioria das pessoas desconhece, como a aquisição de terrenos antes de 1980, que foram mantidos nos livros a preço de custo, apesar da dramática avaliação dos terrenos da vizinhança, ou simplesmente porque uma companhia está muito diversificada e não consegue produzir qualquer sinergia. A SEARS [NYSE: S], a DEAN WITTER DISCOVER [NYSE: DWD] e a ALLSTATE [NYSE: ALL] valem muito mais como companhias independentes do que quando estiveram juntas. Mantendo um olhar clínico em companhias que podem ser divididas e que valem mais separadas do que juntas faz sentido, principalmente nos dias de hoje em que vários conglomerados da década de 70 estão sendo partilhados.

Veja também:

Valuation - parte 1
Valuation - parte 3

15 de fevereiro de 2010

Valuation - parte 1

Encontrei este texto imenso na internet e decidi compartilhar. É longo, por isso o dividi em três partes. Vale a pena conferir!
Traduzido e adaptado do site www.fool.com


“Valuation” é o primeiro passo para se fazer um investimento inteligente. Quando um investidor procura saber o valor de suas ações baseado em fundamentos, poderá tomar decisões mais acertadas de quais ações comprar e vender. Sem um “valor fundamental”, um investidor fica a deriva na maré aleatória de preços do curto-prazo e, conseqüentemente, de sentimentos ruins.

As instituições financeiras têm dito que a “valuation” deve ser efetuada apenas por “pessoal especializado”. Supostamente, apenas os analistas das corretoras, que estão operando no lado da venda, possuem experiência e habilidades necessárias para comprar e vender num mercado confuso e fazer previsões sobre preços futuros. A “valuation” não é uma ciência obscura, que só pode ser praticada por pessoas com MBA e analistas credenciados. Ela requer apenas noções básicas de matemática e capacidade de discernimento, qualquer pessoa pode estimar valores com a mesma qualidade que os melhores analistas.

Antes, precisamos ter noção do que é uma ação. Uma ação não é uma entidade mágica que sobe e desce ao sabor da maré; ao contrário, ela representa um título de propriedade de uma companhia negociada publicamente. Se a companhia XYZ possui um milhão de ações e você possui uma, significa que você é dono de um milionésimo da companhia.

Por quê razão alguém iria querer pagar um preço por esse milionésimo? Na verdade, existem algumas razões para isso. Sempre haverá alguém que quer seu milionésimo porquê deseja ter um milionésimo dos votos na assembléia dos acionistas da empresa. (NT- Para ações ordinárias). Pode parecer pouco, mas se você conseguir juntar uns cinco milhões de amigos, de uma hora para outra, passa a ter o controle sobre a companhia e pode fazer várias coisas, como pagar dividendos gordos ou efetuar fusões com outras companhias.

Companhias compram ações de outras companhias por várias razões. Pode ser para fazer um “takeover”, em que uma companhia compra todas as ações da outra, ou uma “joint venture”, em que uma companhia compra apenas as ações suficientes para ganhar um assento na diretoria. Seja qual for o motivo, as ações estão sempre à venda. O preço de uma ação indica o preço de toda uma companhia a venda durante sete horas e meia ao dia, cinco dias por semana. São essas informações que permitem que outras companhias, públicas ou privadas, tomem decisões inteligentes em relação ao negócio com informações claras e concisas de quanto custaria para eles adquirir ações de outras companhias.

Uma ação é um passaporte para as vendas, lucros, fluxo de caixa, Patrimônio Líquido – e todos outros ingredientes da salada que compõem uma companhia. Mas, para o investidor individual isso significa apenas preocupar-se de que maneira esses números poderão se traduzir em dividendos. Uma ação é um título de propriedade que permite a você receber uma parcela dos dividendos para sempre. Mesmo que a companhia não pague dividendos, sempre existirá a possibilidade de pagar algum no futuro. (NT - no Brasil, por lei, as companhias são obrigadas a pagar 25% do lucro na forma de dividendos).

Finalmente, a companhia pode recomprar suas próprias ações usando seu excesso de caixa ao invés de pagar dividendos para os acionistas. Isso faz com que o preço do papel suba efetivamente já que a própria empresa atua como compradora (aumentando a demanda) e aumenta o lucro por ação (EPS) sobre as ações remanescentes, já que diminui o número de ações em circulação. Companhias maduras, com fluxo de caixa positivo tendem a ser mais liberais nos dias de hoje na recompra de ações do que com dividendos, porquê com dividendos os acionistas serão taxados duas vezes.

A seguir você será imerso nas principais categorias de avaliação. Discutiremos as avaliações baseadas em: lucros, vendas (artigo 1), fluxo de caixa, patrimônio líquido (artigo 2), dividendos e em número de assinantes (artigo 3).


Avaliação baseada no Lucro

Lucros por ação e o Índice P/L
A forma mais comum de se avaliar uma companhia é através dos lucros. O lucro, ou lucro líquido, é o dinheiro em potencial que sobra depois da companhia pagar toda suas contas. Para comparar “maçãs-com-maçãs”, a maiorias das pessoas que procuram por lucros os avaliam na forma de lucro por ação (Equity Per Stock - EPS, ou, Lucro Por Ação - LPA).

Para chegar ao valor de lucro por ação simplesmente divida o lucro da companhia pelo número de ações existentes; assim, se a companhia XYZ possui um milhão de ações e conseguiu lucrar um milhão de dólares nos últimos 12 meses, ela possui um lucro por ação passado (“trailing” EPS) de $1,00. (É chamado de “trailing” EPS porquê considera os últimos quatro trimestres publicados – os três trimestres anteriores ao trimestre mais recentemente publicado).


$1.000.000 / 1.000.000 ações = $1,00 em lucros por ação (LPA)


Os lucros por ação sozinhos não têm qualquer significado. A maioria dos investidores procura olhar para o lucro por ação em relação ao seu preço, empregando o Índice Preço/Lucro (P/L). O índice P/L pega o preço da ação e o divide pelo lucro por ação dos quarto últimos trimestres. Por exemplo, se a nossa companhia XYZ estivesse sendo vendida por $15 por ação teria um P/L de 15.


Preço por ação de $15 / $ 1,00 em LPA = P/L 15


O P/L é o Cálice Sagrado?
Existe uma grande quantidade de investidores que param de analisar um papel depois de descobrir seu índice P/L. Sem nem sequer olhar para qualquer outra forma de “valuation”, esse tipo de investidor pula fora cegamente, armados apenas com um único índice, ignorando totalmente a vastidão de formas que constituem a análise fundamentalista. Popularizado por Ben Graham (que usa uma série de outras técnicas além do P/L baixo para encontrar valor), o índice P/L tem sido simplificado demais por aqueles que olham apenas para esse número. Esse tipo de investidor procura por ações de “baixo P/L”, que são companhias que possuem um preço muito baixo em relação aos seus lucros passados.

Também chamado de “múltiplo”, o P/L tem sido mais comumente empregado em comparação com a taxa de crescimento de lucros por ação. Assumimos que uma companhia está próxima de seu preço justo quando o índice P/L é igual à taxa de crescimento de lucros por ação.

No exemplo da Companhia XYZ, descobrimos que a companhia tem conseguido fazer crescer seus lucros a uma taxa de 13% ao ano, sugerindo que a um P/L de 15, a companhia esteja muito próxima de seu preço justo. Bons investidores acreditam que o Índice P/L só faz sentido quando empregado comparativamente com a taxa de crescimento de lucros. Se uma companhia perdeu dinheiro no ultimo ano, ou sofreu um decréscimo em lucros por ação nos últimos 12 meses, o P/L se torna menos útil do que outros métodos de avaliação que falaremos mais tarde nessa série. No final, o índice P/L não deve ser visto isoladamente, mas sim dentro do contexto do crescimento para evitar que venhamos incorrer em erros.

Ações com baixo P/L são realmente baratas?
Com o advento de filtros computadorizados (“screening”) e de bancos de dados de ações, encontrar ações com P/L baixo tem sido cada vez mais difícil. Quando Ben Graham formulou muitos dos seus princípios de investimento, as pessoas tinham que procurar manualmente por centenas de tabelas de ações para localizar papéis com P/Ls baixos. Hoje em dia, tudo que você tem que fazer é apertar alguns botões de um banco de dados on-line para obter uma lista do tamanho dos seus braços.

Os filtros aumentaram a eficiência do Mercado. Hoje em dia, quando você vê uma ação com P/L baixo, mais do que nunca, elas devem estar merecendo um P/L baixo porquê suas perspectivas futuras são questionáveis. Um investidor inteligente avalia uma companhia baseado nas suas perspectivas futuras e não na sua performance passada; ações com baixos P/Ls normalmente possuem nuvens negras circulando seu futuro. Isso não quer dizer que você não consiga encontrar ações espetaculares com P/L baixo que o Mercado não reconheceu ainda – você pode, e acontece toda hora. O que você necessita é confirmar o valor existente nessas companhias aplicando outras técnicas de avaliação.

O PEG e o YPEG
O uso mais comum do P/L é o PEG, (P/E and growth ratio – P/L dividido pela taxa de crescimento de lucros) e o YPEG, (o P/L estimado para o próximo período dividido pela taxa de crescimento de lucros). Ao invés de tentarmos reinventar a roda, como existe uma série de artigos maravilhosos no reino de Fool, apenas direcionarei vocês para eles passando rapidamente sobre o assunto. O artigo completo sobre o e o YPEG, foi chamado de”Índice Fool."

O PEG simplesmente pega a taxa estimada de crescimento de lucro ao ano e compara com o preço da ação no mercado. Uma vez que é o lucro futuro que faz uma companhia ter valor para um comprador ou acionista, procurando por dividendos ou fluxo de caixa livre para recompra de ações no mercado, o resultado acaba sendo intuitivo. Olhar apenas para o P/L passado é como dirigir olhando para o retrovisor.

Se é esperado que uma companhia venha a crescer 10% ao ano pelos próximos 2 anos e ela possui um P/L de 10, então terá um PEG de 1,0.


P/L de 10 / Crescimento de 10% em LPA = PEG 1,0


Um PEG de 1,0 sugere que a companhia esteja avaliada justamente. Se a companhia no exemplo acima apresentasse um P/L de 5, mas fosse esperada crescer 10% ao ano, teria um PEG de 0,5 – indicando que estaria sendo vendida pela metade (50%) do seu preço justo. Se a companhia apresentasse um PEG de 2,0, estaria sendo vendida pelo dobro do que vale, considerando-se que o P/L deva ser igual a taxa de crescimento de lucro por ação (LPA).

Enquanto o PEG é mais empregado em companhias de crescimento (“growth companies”), o YPEG é mais utilizado para avaliar companhias grandes, e bem estabelecidas. O YPEG utiliza as mesmas premissas do PEG, mas procura em números diferentes. Como a maioria das corretoras estima a taxa de crescimento para 5 anos, ele é uma estima do múltiplo justo para uma companhia no futuro. Assim, se o P/L atual de uma companhia é de 10, mas os analistas esperam que a companhia cresça 20% nos próximos 5 anos, YPEG é igual a 0.5 e a companhia parece estar barata de acordo com essa medida. Como de praxe, devemos olhar o PEG e o YPEG juntos de outras medidas de valor e não considerá-lo como uma máquina mágica de fazer dinheiro.

Múltiplos
Embora o PEG e o YPEG sejam úteis, ambos supõem que o P/L deva se igualar à taxa de crescimento de lucros por ação. Infelizmente, no mundo real não é sempre assim que as coisas acontecem. Muitos apenas olham para a projeção de lucros futuros e estimam que múltiplo justo alguém estaria disposto a pagar pelo papel. Por exemplo, se a companhia XYZ fosse vendida historicamente a 10x seus lucros e estivesse sendo vendida atualmente por 7x porquê ficou abaixo das estimativas dos analistas naquele único trimestre, seria razoável comprar a ação com a expectativa que ela voltasse ao seu múltiplo histórico de 10x, se a sua queda de lucros naquele trimestre fosse apenas uma anomalia de curto prazo.

Quando projetamos múltiplos justos para uma companhia baseado em lucros futuros estimados, começamos a fazer previsões daquilo que pode acontecer no futuro. Embora possamos pesquisar extensamente, de modo a que o risco de estarmos errados seja mínimo, ele sempre existirá. Se apenas uma das hipóteses que fizermos estiver errada, o papel acabará não indo para o lugar que esperávamos que ele fosse. Dito isso, se a maioria dos investidores e companhias lá fora estiverem empregando a mesma estratégia, fazendo suas próprias estimativas também, na pior das hipóteses não estaremos sozinhos.

Uma modificação na abordagem do múltiplo é determinarmos a relação entre o P/L da companhia e o P/L médio do Ibovespa. Se a companhia XYZ tem sido comercializada e 150% do Ibovespa, e o Ibovespa está atualmente em 10, muitos investidores acreditam que a companhia deveria estar sendo comercializada a um P/L justo de 15, assumindo que nada mudou. Essa relação histórica requer alguns bancos de dados e planilhas sofisticadas que não são largamente utilizadas por investidores individuais, embora muitos administradores de recursos empreguem essa abordagem.


Avaliação baseada em Vendas

Valuation: O Índice Preço/Vendas (PSR)
Toda vez que uma companhia vende alguma coisa aos seus clientes está gerando receitas. Receitas são as vendas recebidas pela companhia pelo fornecimento de bens ou serviços. Não importa se a companhia conseguiu ou não fazer dinheiro ano passado, sempre haverá receitas. Mesmo as companhias que estão perdendo dinheiro temporariamente, ou possuem lucros deprimidos devido a circunstâncias de curto-prazo (como o desenvolvimento de produtos ou aumento de impostos), ou que sejam relativamente novas em um segmento de alto crescimento, serão normalmente avaliadas por suas vendas e não pelos seus lucros. As avaliações baseadas em receitas são efetuadas por intermédio do índice Preço/Vendas, ou simplesmente PSR (Price Sales Ratio). (NT - O Site Economática apresenta o PSR das ações em suas páginas)

O PSR pega a capitalização de Mercado da companhia e divide pelas receitas dos 12 últimos meses. A capitalização de Mercado é o valor atual da companhia obtido multiplicando-se o preço da ação no mercado pelo número de ações existentes. Esse é o preço pelo qual o mercado está avaliando a companhia. Por exemplo, se a Companhia XYZ possui dez milhões de ações, que custam $10 a ação, então sua capitalização de mercado é de $100 milhões.

Alguns investidores são ainda mais conservadores e somam as dívidas de longo prazo da companhia ao valor de mercado para chegar a capitalização de mercado. A lógica aqui é que se você for adquirir a companhia, assumirá também suas dívidas, pagando, por conseqüência, esse valor a mais. Isso evita comparar PSR de duas companhias em que uma tem uma dívida enorme empregada no sentido de aumentar suas vendas e outra com vendas menores mas que, em compensação, não assumiu nenhum a dívida perigosa.


Capitalização de Mercado = (Nº de Ações * Preço da Ação) + Dívidas de Longo Prazo


O próximo passo para calcular o PSR é somar as receitas dos últimos quatro trimestres, e dividir esse número pela capitalização de mercado. Digamos que a Companhia XYZ tenha conseguido $200 milhões em vendas nos últimos quatro trimestres e atualmente não possua qualquer dívida de longo prazo. O PSR será de:


(10.000.000 ações * $10/ação) + $0 dívidas / $200 milhões de Receitas = Preço/Vendas ou PSR= 0.5


Uma companhia sempre considera o PSR antes de fazer uma aquisição. Se você já viu um negócio ser fechado em cima do "múltiplo de vendas”, já viu o PSR em uso. Como essa é uma forma legítima de uma companhia avaliar uma aquisição, muitos simplesmente extrapolam esse conceito para o Mercado acionário e o empregam para avaliar uma empresa .

Usos do PSR
Da mesma forma que o PEG e o YPEG, quanto menor o resultado da relação Preço/Vendas, melhor. Ken Fisher, que é mais conhecido pelo emprego do PSR para avaliar ações, procura por companhias com PSR inferiores a 1,0 para encontrar ações que o mercado esteja sub-avaliando. Essa é a aplicação mais comum do PSR e é realmente um excelente indicador de valor, de acordo com o trabalho efetuado por James O'Shaughnessey em cima do banco de dados do S&P's CompuStat .

O PSR é também uma excelente ferramenta para se utilizar quando uma companhia não conseguiu fazer dinheiro em determinado ano. A menos que a companhia venha a falir, o PSR pode nos informar se as vendas estão sendo feitas com desconto em relação a seus concorrentes. Se a Companhia XYZ perdeu dinheiro ano passado, mas possui um PSR de 0,5 enquanto as outras companhias da mesma indústria possuem um PSR de 2,0 ou maior, você pode assumir que se ela conseguir dar a volta por cima e começar a fazer dinheiro de novo, terá uma maior tendência de alta elevando seu PSR para ficar em linha com de seus concorrentes. Existem, por exemplo, alguns anos de recessão em que nenhuma das montadoras de automóveis fez dinheiro. Isso quer dizer que nenhuma delas tem valor, e que não é possível fazer comparações entre elas? Não, você só precisa empregar o PSR ao invés do índice P/L para saber quanto você estaria pagando por um real de vendas, ao invés de um real de lucro.

Outro uso comum do PSR é para comparar companhias dentro de um mesmo setor, empregando o PSR junto com o índice P/L para confirmar valor. Se uma companhia possui baixo P/L, mas alto PSR pode ser um alerta para o investidor que existiu uma anomalia de lucros nos últimos trimestres que está elevando o lucro por ação excepcionalmente. Finalmente, as companhias novas em indústrias da moda são sempre precificadas baseadas no múltiplo de vendas e não no múltiplo de lucros.

Veja também:

Valuation - parte 2
Valuation - parte 3