Avaliação baseada no Fluxo de Caixa
Fluxo de caixa (EBITDA) e despesas não financeiras
Apesar da maioria dos investidores individuais nunca terem ouvido falar em fluxo de caixa, essa é a forma de medida mais usual feita por bancos de investimento para avaliar uma companhia pública e/ou privada. Fluxo de caixa é literalmente o caixa que flui através de uma companhia naquele trimestre ou ano depois de subtraídas todas as despesas fixas. O Fluxo de Caixa é normalmente definido como Lucros Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (EBITDA ou LAJIDA) (O Fluxo de Caixa dentro desse conceito não deve ser confundido com o Fluxo de Caixa Livre, que é uma medida importante para os investidores “Rule Maker”)
Por que olhar para os lucros antes dos juros, impostos depreciação e amortização? Porque, da mesma forma que os impostos, as despesas e receitas financeiras, são colocadas de lado, o fluxo de caixa foi criado para olhar para o negócio sob o ponto de vista operacional e não das despesas ou receitas secundárias. Principalmente os Impostos que dependem de detalhes tributários em um ano específico e podem causar oscilações muito grandes na capacidade lucrativa de uma empresa. Por exemplo, a CYBEROPTICS [Nasdaq: CYBE] - indústria de sensores ópticos e sistemas de controle para o mercado de equipamentos eletrônicos de montagem - usufruiu de uma alíquota de 15% em 1996, mas, em 1997, a alíquota mais do que dobrou. Essa situação superdimensionou o lucro da CyberOptics' no primeiro ano e subestimou no segundo, mascarando a verdadeira situação operacional da companhia. Assim, um analista cuidadoso poderia empregar também os lucros antes dos juros e impostos (EBIT) ao invés de empregar o lucro líquido para avaliar o crescimento da companhia. O EBIT é também ajustado de despesas ou receitas excepcionais que só venham ocorrem uma vez.
A depreciação e a amortização são chamadas de despesas não financeiras, porquê a companhia não gasta realmente nenhum centavo com elas. A depreciação é uma convenção contábil para fins fiscais que permite que a empresa desconte do imposto de renda as despesas de capital sobre plantas e equipamentos quando eles vão ficando mais velhos e menos úteis. A amortização acontece normalmente quando uma companhia adquire outra, pagando um prêmio extra em cima de seu Patrimônio Líquido. Um número que ela contabiliza no seu balanço patrimonial como “goodwill”, sendo forçada a amortizá-lo em um determinado período de tempo, de acordo com as convenções contábeis. Quando formos olhar para o fluxo de caixa de uma empresa faz sentido colocarmos de lado algumas convenções contábeis que possam mascarar sua capacidade financeira.
Como e Quando usar o Fluxo de Caixa
O Fluxo de Caixa é mais empregado para avaliar empresas que possuam altas despesas de capital e companhias que possuam muita amortização para baixar. Companhias de TV à cabo como a TIME-WARNER [NYSE: TWX] e a TELECOMMUNICATIONS INC. [Nasdaq: TCOMA] apresentaram lucros negativos por vários anos devido as grandes despesas de capital necessárias para construir suas redes de cabo, embora seus fluxos de caixa estivessem na realidade crescendo. Isso porquê um valor muito alto de amortização e depreciação estava mascarando sua habilidade de gerar caixa. Compradores sofisticados desse tipo de empresa empregam o fluxo de caixa como forma de avaliar uma aquisição, dessa forma faz sentido para os investidores empregá-lo também em suas avaliações.
A forma mais comum de se avaliar o EBITDA, é através do Fluxo de Caixa Descontado, que é uma aplicação em forma de planilha que não conseguiríamos explicar aqui sucintamente. O Valor Econômico Adicionado (EVA) é outra vertente sofisticada do fluxo de caixa que olha para o custo do capital e para o retorno que a empresa consegue produzir acima do custo de capital como forma de separar aqueles negócios que geram dinheiro de verdade daqueles que apenas consomem dinheiro. Uma forma mais direta do investidor individual empregar o fluxo de caixa é entender como os múltiplos do fluxo de caixa funcionam.
Em uma aquisição ao mercado, seja ela pública ou privada, o múltiplo preço-fluxo-de-caixa fica normalmente em torno de 6 a 7. Quando esse múltiplo atinge a faixa de 8 a 9, normalmente a aquisição é considerada cara. Alguns aconselham a venda da companhia quando esse múltiplo ultrapassar os 10. Numa aquisição alavancada (LBO), o comprador procura não pagar mais do que 5 vezes o fluxo de caixa porque grande parte da aquisição está sendo financiada por endividamento. A companhia compradora tenta efetuar o pagamento de todo dinheiro empregado para fazer a aquisição em 6 anos, procurando limitar-se a companhias que possuam um EBITDA do dobro ou superior aos juros do financiamento, e possuam um valor de financiamento total de no máximo de 4,5 a 5,0 vezes o EBITDA.
Os investidores interessados em estudos mais aprofundados sobre EBITDA, Fluxo de Caixa Descontado e EVA aconselho a compra de um livro especializado; de qualquer forma, em outra oportunidade detalharei melhor esses itens. Como esses são os métodos empregados por companhias interessadas em aquisição, faz todo sentido familiarizar-se com a lógica por trás deles, porquê podem ser úteis para identificar barganhas antes da multidão.
Avaliação baseada em Patrimônio Líquido
O que é Patrimônio Líquido?
Patrimônio Líquido é uma forma engraçada de dizer “tudo que está lá”. Não importa se são coisas tangíveis como caixa, ativos circulantes, capital de giro, dinheiro dos acionistas, ou qualidades intangíveis como administração, marca; Patrimônio Líquido é tudo que uma companhia possui caso ela parasse de vender seus produtos e saísse do negócio amanhã.
Tradicionalmente os investidores que procuram comprar companhias com uma quantidade expressiva de Patrimônio Líquido como garantia de valor são um grupo de paranóicos que estão procurando ter algo para receber caso a companhia vier a ser liquidada. Na era do consumo em massa dominado pela televisão ajudaram aos intangíveis como nomes e marcas criarem fossas quase impenetráveis ao redor do negócio, os investidores contemporâneos começaram a esticar os limites do Patrimônio Líquido enfatizando as qualidades dos valores não tangíveis e concretos, mas que são absolutamente vitais para o futuro da companhia.
O Balanço Patrimonial: Caixa e Capital de Giro
Você gostaria de compra um dólar de ativos por um dólar de valor de mercado? Ben Graham gostava. Ele desenvolveu um dos filtros mais famosos para procurar por companhias que tinham mais dinheiro na mão do que valor de mercado. Primeiramente, Graham procurava pelo caixa, equivalentes e investimentos de curto-prazo da companhia. Dividindo esse número pelo número de ações fornecia a ele uma idéia de quanto do preço da ação é constituído de dinheiro que a companhia possuía nas mãos. Comprar uma companhia com bastante dinheiro em caixa pode trazer uma série de benefícios – dinheiro pode desenvolver produtos, fazer aquisições estratégicas e pagar executivos de grosso calibre. Mesmo uma companhia que pareça ter perspectivas futuras limitadas pode ser bastante promissora se tiver bastante dinheiro nas mãos.
Outra medida de valor é o Capital de Giro que a companhia possui em relação a sua capitalização de mercado. Capital de Giro é o que sobra depois que você subtrai os Passivos Circulantes dos Ativos Circulantes. Capital de Giro são os fundos que uma companhia possui para conduzir seus negócios do dia-a-dia. Se você conseguir comprar uma companhia por um preço próximo do seu capital de giro, você terá comprado um dólar de ativos por um dólar de preço de mercado – não é um mau negócio também. Assim como dinheiro pode comprar várias coisas boas, o Capital de Giro também pode.
Patrimônio Líquido e Valor Patrimonial
O Patrimônio Líquido é uma convenção contábil que inclui os ativos líquidos (NT – Ativos livre de Passivos) de uma companhia como dinheiro, ativos permanentes como imóveis, e também os lucros retidos. Isso é uma medida global de quanto valeriam os ativos da companhia caso ela fosse liquidada. Não importa se esses ativos são prédios, escrivaninhas, camisetas velhas no estoque ou descargas de vaso sanitário no almoxarifado.
O Patrimônio Líquido ajuda a avaliar uma companhia quando você descobre seu valor patrimonial. O valor patrimonial de uma companhia pode ser encontrado na sua contabilidade. Para calcular o valor patrimonial por ação, pegue o Patrimônio Líquido da companhia e divida-o pelo número de ações existentes. Se agora você dividir o preço da ação pelo seu valor patrimonial por ação, encontrará o Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP).
Valor Patrimonial é um conceito claro. Quanto mais próximo você comprar alguma coisa do seu valor patrimonial, melhor para você. Nos dias de hoje, o valor patrimonial é uma coisa que deve ser vista com cuidado, porque a maioria das companhias avaliam seus estoques e os efeitos da inflação e deflação sobre suas propriedades de acordo com as deduções que pretendem obter no imposto de renda; embora para companhias financeiras como bancos, financeiras, corretoras, empresas de cartões de crédito, o valor patrimonial ainda seja bastante relevante. Por exemplo, no setor bancário as aquisições são sempre efetuadas em cima de valor patrimonial, com os depósitos e empréstimos sendo tomados sobre algo entre 1,7 a 2,0 do valor patrimonial.
Outro uso do Patrimônio Líquido é para determinarmos o Retorno sobre o Patrimônio Líquido, ou ROE. Retorno sobre o Patrimônio Líquido é uma medida de quanto, em termos de lucro, uma companhia consegue gerar em quatro trimestres comparado com seu Patrimônio Líquido. O ROE é medido em termos percentuais. Por exemplo, se a companhia XYZ fez um milhão de dólares de lucro no ano passado e possui um Patrimônio Líquido de dez milhões, então ela possui um ROE de 10%. Alguns empregam o ROE como um filtro para encontrar companhias que podem gerar grandes lucros sem muito investimento de capital. A COCA-COLA [NYSE: KO], por exemplo, não precisa de muito investimento para atualizar seu equipamento - o processo para fabricar o seu xarope não se modifica muito com o avanço tecnológico. Na verdade, companhias com altos ROEs são tão atrativas para alguns investidores que alguns deles farão uma média do ROE e com o crescimento esperado dos lucros para encontrar um múltiplo justo. É esse motivo pelo qual companhias farmacêuticas como a MERCK [NYSE: MRK] conseguem crescer 10% ou mais a cada ano e mesmo assim são comercializadas consistentemente acima de 20x seus lucros.
Intangíveis
A marca é o elemento mais intangível dentro de uma companhia, mas talvez seja um dos mais importantes para sua a sobrevivência no futuro. Se todos os MCDONALD'S [NYSE:MCD] do mundo desaparecessem amanhã, a companhia poderia simplesmente pegar alguns empréstimos e reconstruir seu império e voltar a ser uma potência mundial em alguns meses. O que permitiria ao McDonald's fazer isso? É a sua presença na nossa mente coletiva – o fato é que se dez pessoas fossem obrigadas a dizer o nome de uma lanchonete “fast food”, nove iriam dizer McDonald's, sem hesitar. A companhia possui uma marca muito conhecida e isso agrega um tremendo valor a ela, apesar de não poder ser quantificado.
Alguns investidores se preocupam com marcas, particularmente em indústrias emergentes que tradicionalmente sobreviveram sem elas. A genialidade da INTEL [Nasdaq: INTC] e da MICROSOFT [Nasdaq: MSFT] é que conseguiram transformar o nome de suas companhias em marcas que dão a elas uma tremenda vantagem sobre a concorrência. A marca é também transferível para outros produtos – a razão pela qual a Microsoft pode se tornar uma potência em “online banking”, por exemplo, é porque tem um enorme patrimônio em marcas de aplicativos e sistema operacional. É como se o Leite Moça fosse entrar no mercado de doce de leite. Seria necessária muito pouca propaganda para o produto crescer.
As marcas necessitam de uma administração competente para poder liberar valor. Se uma marca sofre por causa de incompetência administrativa, como foi o caso da AMERICAN EXPRESS [NYSE: AXP] no começo da década de 90, ou da Coca-Cola no início da década de 80, então muitas pessoas começam a duvidar se o valor da marca se mantém intacto. Ironicamente, as maiores oportunidades de compra de marcas ocorrem quando as pessoas param de acreditar nelas por alguns momentos. Marcas esquecidas normalmente conseguem sobreviver aos traumas de curto-prazo.
Os intangíveis podem significar também que as ações de uma determinada companhia conseguem ser comercializadas a um prêmio extra sobre a sua taxa de crescimento. Uma companhia com margens gordas, com um “market share” dominante, batendo consistentemente as previsões dos analistas e um balanço patrimonial sem dívidas pode comercializar a um múltiplo mais alto que a sua taxa de crescimento poderia sugerir. Embora os intangíveis sejam difíceis de quantificar, não quer dizer que eles não tenham um grande efeito sobre o preço da ação da companhia. O único problema com companhias que possuam muitos ativos intangíveis é que qualquer sinal de problemas poderá fazer com que todo o prêmio venha a desaparecer.
A Companhia em pedaços
Finalmente uma companhia pode valer mais aos pedaços do que inteira. Isso pode acontecer porque existem ativos escondidos que a maioria das pessoas desconhece, como a aquisição de terrenos antes de 1980, que foram mantidos nos livros a preço de custo, apesar da dramática avaliação dos terrenos da vizinhança, ou simplesmente porque uma companhia está muito diversificada e não consegue produzir qualquer sinergia. A SEARS [NYSE: S], a DEAN WITTER DISCOVER [NYSE: DWD] e a ALLSTATE [NYSE: ALL] valem muito mais como companhias independentes do que quando estiveram juntas. Mantendo um olhar clínico em companhias que podem ser divididas e que valem mais separadas do que juntas faz sentido, principalmente nos dias de hoje em que vários conglomerados da década de 70 estão sendo partilhados.
Veja também:
Valuation - parte 1
Valuation - parte 3
Fluxo de caixa (EBITDA) e despesas não financeiras
Apesar da maioria dos investidores individuais nunca terem ouvido falar em fluxo de caixa, essa é a forma de medida mais usual feita por bancos de investimento para avaliar uma companhia pública e/ou privada. Fluxo de caixa é literalmente o caixa que flui através de uma companhia naquele trimestre ou ano depois de subtraídas todas as despesas fixas. O Fluxo de Caixa é normalmente definido como Lucros Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (EBITDA ou LAJIDA) (O Fluxo de Caixa dentro desse conceito não deve ser confundido com o Fluxo de Caixa Livre, que é uma medida importante para os investidores “Rule Maker”)
Por que olhar para os lucros antes dos juros, impostos depreciação e amortização? Porque, da mesma forma que os impostos, as despesas e receitas financeiras, são colocadas de lado, o fluxo de caixa foi criado para olhar para o negócio sob o ponto de vista operacional e não das despesas ou receitas secundárias. Principalmente os Impostos que dependem de detalhes tributários em um ano específico e podem causar oscilações muito grandes na capacidade lucrativa de uma empresa. Por exemplo, a CYBEROPTICS [Nasdaq: CYBE] - indústria de sensores ópticos e sistemas de controle para o mercado de equipamentos eletrônicos de montagem - usufruiu de uma alíquota de 15% em 1996, mas, em 1997, a alíquota mais do que dobrou. Essa situação superdimensionou o lucro da CyberOptics' no primeiro ano e subestimou no segundo, mascarando a verdadeira situação operacional da companhia. Assim, um analista cuidadoso poderia empregar também os lucros antes dos juros e impostos (EBIT) ao invés de empregar o lucro líquido para avaliar o crescimento da companhia. O EBIT é também ajustado de despesas ou receitas excepcionais que só venham ocorrem uma vez.
A depreciação e a amortização são chamadas de despesas não financeiras, porquê a companhia não gasta realmente nenhum centavo com elas. A depreciação é uma convenção contábil para fins fiscais que permite que a empresa desconte do imposto de renda as despesas de capital sobre plantas e equipamentos quando eles vão ficando mais velhos e menos úteis. A amortização acontece normalmente quando uma companhia adquire outra, pagando um prêmio extra em cima de seu Patrimônio Líquido. Um número que ela contabiliza no seu balanço patrimonial como “goodwill”, sendo forçada a amortizá-lo em um determinado período de tempo, de acordo com as convenções contábeis. Quando formos olhar para o fluxo de caixa de uma empresa faz sentido colocarmos de lado algumas convenções contábeis que possam mascarar sua capacidade financeira.
Como e Quando usar o Fluxo de Caixa
O Fluxo de Caixa é mais empregado para avaliar empresas que possuam altas despesas de capital e companhias que possuam muita amortização para baixar. Companhias de TV à cabo como a TIME-WARNER [NYSE: TWX] e a TELECOMMUNICATIONS INC. [Nasdaq: TCOMA] apresentaram lucros negativos por vários anos devido as grandes despesas de capital necessárias para construir suas redes de cabo, embora seus fluxos de caixa estivessem na realidade crescendo. Isso porquê um valor muito alto de amortização e depreciação estava mascarando sua habilidade de gerar caixa. Compradores sofisticados desse tipo de empresa empregam o fluxo de caixa como forma de avaliar uma aquisição, dessa forma faz sentido para os investidores empregá-lo também em suas avaliações.
A forma mais comum de se avaliar o EBITDA, é através do Fluxo de Caixa Descontado, que é uma aplicação em forma de planilha que não conseguiríamos explicar aqui sucintamente. O Valor Econômico Adicionado (EVA) é outra vertente sofisticada do fluxo de caixa que olha para o custo do capital e para o retorno que a empresa consegue produzir acima do custo de capital como forma de separar aqueles negócios que geram dinheiro de verdade daqueles que apenas consomem dinheiro. Uma forma mais direta do investidor individual empregar o fluxo de caixa é entender como os múltiplos do fluxo de caixa funcionam.
Em uma aquisição ao mercado, seja ela pública ou privada, o múltiplo preço-fluxo-de-caixa fica normalmente em torno de 6 a 7. Quando esse múltiplo atinge a faixa de 8 a 9, normalmente a aquisição é considerada cara. Alguns aconselham a venda da companhia quando esse múltiplo ultrapassar os 10. Numa aquisição alavancada (LBO), o comprador procura não pagar mais do que 5 vezes o fluxo de caixa porque grande parte da aquisição está sendo financiada por endividamento. A companhia compradora tenta efetuar o pagamento de todo dinheiro empregado para fazer a aquisição em 6 anos, procurando limitar-se a companhias que possuam um EBITDA do dobro ou superior aos juros do financiamento, e possuam um valor de financiamento total de no máximo de 4,5 a 5,0 vezes o EBITDA.
Os investidores interessados em estudos mais aprofundados sobre EBITDA, Fluxo de Caixa Descontado e EVA aconselho a compra de um livro especializado; de qualquer forma, em outra oportunidade detalharei melhor esses itens. Como esses são os métodos empregados por companhias interessadas em aquisição, faz todo sentido familiarizar-se com a lógica por trás deles, porquê podem ser úteis para identificar barganhas antes da multidão.
Avaliação baseada em Patrimônio Líquido
O que é Patrimônio Líquido?
Patrimônio Líquido é uma forma engraçada de dizer “tudo que está lá”. Não importa se são coisas tangíveis como caixa, ativos circulantes, capital de giro, dinheiro dos acionistas, ou qualidades intangíveis como administração, marca; Patrimônio Líquido é tudo que uma companhia possui caso ela parasse de vender seus produtos e saísse do negócio amanhã.
Tradicionalmente os investidores que procuram comprar companhias com uma quantidade expressiva de Patrimônio Líquido como garantia de valor são um grupo de paranóicos que estão procurando ter algo para receber caso a companhia vier a ser liquidada. Na era do consumo em massa dominado pela televisão ajudaram aos intangíveis como nomes e marcas criarem fossas quase impenetráveis ao redor do negócio, os investidores contemporâneos começaram a esticar os limites do Patrimônio Líquido enfatizando as qualidades dos valores não tangíveis e concretos, mas que são absolutamente vitais para o futuro da companhia.
O Balanço Patrimonial: Caixa e Capital de Giro
Você gostaria de compra um dólar de ativos por um dólar de valor de mercado? Ben Graham gostava. Ele desenvolveu um dos filtros mais famosos para procurar por companhias que tinham mais dinheiro na mão do que valor de mercado. Primeiramente, Graham procurava pelo caixa, equivalentes e investimentos de curto-prazo da companhia. Dividindo esse número pelo número de ações fornecia a ele uma idéia de quanto do preço da ação é constituído de dinheiro que a companhia possuía nas mãos. Comprar uma companhia com bastante dinheiro em caixa pode trazer uma série de benefícios – dinheiro pode desenvolver produtos, fazer aquisições estratégicas e pagar executivos de grosso calibre. Mesmo uma companhia que pareça ter perspectivas futuras limitadas pode ser bastante promissora se tiver bastante dinheiro nas mãos.
Outra medida de valor é o Capital de Giro que a companhia possui em relação a sua capitalização de mercado. Capital de Giro é o que sobra depois que você subtrai os Passivos Circulantes dos Ativos Circulantes. Capital de Giro são os fundos que uma companhia possui para conduzir seus negócios do dia-a-dia. Se você conseguir comprar uma companhia por um preço próximo do seu capital de giro, você terá comprado um dólar de ativos por um dólar de preço de mercado – não é um mau negócio também. Assim como dinheiro pode comprar várias coisas boas, o Capital de Giro também pode.
Patrimônio Líquido e Valor Patrimonial
O Patrimônio Líquido é uma convenção contábil que inclui os ativos líquidos (NT – Ativos livre de Passivos) de uma companhia como dinheiro, ativos permanentes como imóveis, e também os lucros retidos. Isso é uma medida global de quanto valeriam os ativos da companhia caso ela fosse liquidada. Não importa se esses ativos são prédios, escrivaninhas, camisetas velhas no estoque ou descargas de vaso sanitário no almoxarifado.
O Patrimônio Líquido ajuda a avaliar uma companhia quando você descobre seu valor patrimonial. O valor patrimonial de uma companhia pode ser encontrado na sua contabilidade. Para calcular o valor patrimonial por ação, pegue o Patrimônio Líquido da companhia e divida-o pelo número de ações existentes. Se agora você dividir o preço da ação pelo seu valor patrimonial por ação, encontrará o Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP).
Valor Patrimonial é um conceito claro. Quanto mais próximo você comprar alguma coisa do seu valor patrimonial, melhor para você. Nos dias de hoje, o valor patrimonial é uma coisa que deve ser vista com cuidado, porque a maioria das companhias avaliam seus estoques e os efeitos da inflação e deflação sobre suas propriedades de acordo com as deduções que pretendem obter no imposto de renda; embora para companhias financeiras como bancos, financeiras, corretoras, empresas de cartões de crédito, o valor patrimonial ainda seja bastante relevante. Por exemplo, no setor bancário as aquisições são sempre efetuadas em cima de valor patrimonial, com os depósitos e empréstimos sendo tomados sobre algo entre 1,7 a 2,0 do valor patrimonial.
Outro uso do Patrimônio Líquido é para determinarmos o Retorno sobre o Patrimônio Líquido, ou ROE. Retorno sobre o Patrimônio Líquido é uma medida de quanto, em termos de lucro, uma companhia consegue gerar em quatro trimestres comparado com seu Patrimônio Líquido. O ROE é medido em termos percentuais. Por exemplo, se a companhia XYZ fez um milhão de dólares de lucro no ano passado e possui um Patrimônio Líquido de dez milhões, então ela possui um ROE de 10%. Alguns empregam o ROE como um filtro para encontrar companhias que podem gerar grandes lucros sem muito investimento de capital. A COCA-COLA [NYSE: KO], por exemplo, não precisa de muito investimento para atualizar seu equipamento - o processo para fabricar o seu xarope não se modifica muito com o avanço tecnológico. Na verdade, companhias com altos ROEs são tão atrativas para alguns investidores que alguns deles farão uma média do ROE e com o crescimento esperado dos lucros para encontrar um múltiplo justo. É esse motivo pelo qual companhias farmacêuticas como a MERCK [NYSE: MRK] conseguem crescer 10% ou mais a cada ano e mesmo assim são comercializadas consistentemente acima de 20x seus lucros.
Intangíveis
A marca é o elemento mais intangível dentro de uma companhia, mas talvez seja um dos mais importantes para sua a sobrevivência no futuro. Se todos os MCDONALD'S [NYSE:MCD] do mundo desaparecessem amanhã, a companhia poderia simplesmente pegar alguns empréstimos e reconstruir seu império e voltar a ser uma potência mundial em alguns meses. O que permitiria ao McDonald's fazer isso? É a sua presença na nossa mente coletiva – o fato é que se dez pessoas fossem obrigadas a dizer o nome de uma lanchonete “fast food”, nove iriam dizer McDonald's, sem hesitar. A companhia possui uma marca muito conhecida e isso agrega um tremendo valor a ela, apesar de não poder ser quantificado.
Alguns investidores se preocupam com marcas, particularmente em indústrias emergentes que tradicionalmente sobreviveram sem elas. A genialidade da INTEL [Nasdaq: INTC] e da MICROSOFT [Nasdaq: MSFT] é que conseguiram transformar o nome de suas companhias em marcas que dão a elas uma tremenda vantagem sobre a concorrência. A marca é também transferível para outros produtos – a razão pela qual a Microsoft pode se tornar uma potência em “online banking”, por exemplo, é porque tem um enorme patrimônio em marcas de aplicativos e sistema operacional. É como se o Leite Moça fosse entrar no mercado de doce de leite. Seria necessária muito pouca propaganda para o produto crescer.
As marcas necessitam de uma administração competente para poder liberar valor. Se uma marca sofre por causa de incompetência administrativa, como foi o caso da AMERICAN EXPRESS [NYSE: AXP] no começo da década de 90, ou da Coca-Cola no início da década de 80, então muitas pessoas começam a duvidar se o valor da marca se mantém intacto. Ironicamente, as maiores oportunidades de compra de marcas ocorrem quando as pessoas param de acreditar nelas por alguns momentos. Marcas esquecidas normalmente conseguem sobreviver aos traumas de curto-prazo.
Os intangíveis podem significar também que as ações de uma determinada companhia conseguem ser comercializadas a um prêmio extra sobre a sua taxa de crescimento. Uma companhia com margens gordas, com um “market share” dominante, batendo consistentemente as previsões dos analistas e um balanço patrimonial sem dívidas pode comercializar a um múltiplo mais alto que a sua taxa de crescimento poderia sugerir. Embora os intangíveis sejam difíceis de quantificar, não quer dizer que eles não tenham um grande efeito sobre o preço da ação da companhia. O único problema com companhias que possuam muitos ativos intangíveis é que qualquer sinal de problemas poderá fazer com que todo o prêmio venha a desaparecer.
A Companhia em pedaços
Finalmente uma companhia pode valer mais aos pedaços do que inteira. Isso pode acontecer porque existem ativos escondidos que a maioria das pessoas desconhece, como a aquisição de terrenos antes de 1980, que foram mantidos nos livros a preço de custo, apesar da dramática avaliação dos terrenos da vizinhança, ou simplesmente porque uma companhia está muito diversificada e não consegue produzir qualquer sinergia. A SEARS [NYSE: S], a DEAN WITTER DISCOVER [NYSE: DWD] e a ALLSTATE [NYSE: ALL] valem muito mais como companhias independentes do que quando estiveram juntas. Mantendo um olhar clínico em companhias que podem ser divididas e que valem mais separadas do que juntas faz sentido, principalmente nos dias de hoje em que vários conglomerados da década de 70 estão sendo partilhados.
Veja também:
Valuation - parte 1
Valuation - parte 3
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