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24 de fevereiro de 2011

10 orientações de um bilionário brasileiro

Lírio Parisotto
Lirio Parisotto, com 55 anos, começou 2009 com R$ 1,123 bilhão, avançando para R$ 2,186 bilhões em outubro. Tudo aplicado em ações. Enquanto o Ibovespa subiu 72,79% em 12 meses até 9 de outubro, o fundo do bilionário registrou 122,18% de alta no mesmo período.

A maneira como Parisotto olha o próprio investimento é muito particular. Na carteira de ações dele há 12 papéis, não mais do que isso. Quando uma nova ação entra, alguma sai. A carteira só é movimentada quando ocorrem fatos excepcionais. “Não invisto em empresa que dá problema. Deu prejuízo, vai embora. A Braskem me deu dissabor e não está mais na carteira”, disse Lirio Parisotto durante palestra aos clientes da corretora Geração Futuro, em 9 de outubro.

Capas de variadas revistas, abordando a bem sucedida experiência dele no mercado de ações, Lirio Parisotto afirma gostar da exibição, com o objetivo de mostrar aos leitores que, a exemplo dele, não se deve perder a cabeça quando o Ibovespa despenca.

O empresário, entre 1986 e 1987, perdeu 300 mil dólares ao investir em um momento de pico da bolsa, quando o índice estava no topo. Outro erro cometido, na mesma aplicação, foi ter usado dinheiro do capital de giro, que mais tarde fundaria a empresa Videolar, hoje líder na fabricação e distribuição de DVDs, CDs, fitas VHS e mídia virgem no Brasil. Parisotto não está no comando da Videolar; mas integra o conselho de administração da empresa.

Os erros cometidos no passado serviram de aprendizado. No decorrer dos anos seguintes, o empresário multiplicou várias vezes sua fortuna com a renda variável. “Sempre digo que a queda do mercado é uma promoção. Na liquidação das lojas, a pessoa vai às compras para pegar descontos de 15%, 20%, 30% nas peças. O mercado de ações faz isso regularmente, só que as pessoas, em vez de aproveitar a promoção, vão lá e vendem mais”, diz o investidor.

O meu critério de investimento, hoje, são três segmentos: bancos, energia elétrica, siderurgia e mineração. Eu não tenho nada fora disso. Para não dizer que tenho nada, tenho 2% ou 3% de coisas exóticas”, afirma Lírio.

"Se eu tivesse Petrobras, a minha performance este ano estaria abaixo do Ibovespa. Acho a Petrobras uma excelente empresa como negócio, o problema é a gestão da companhia. Enquanto o preço do barril, no mercado internacional, sobe ou desce, o combustível destinado ao consumidor continua inalterado”, explica.

O bilionário também tem uma opinião formada sobre o setor de construção, com mais de 20 empresas com capital aberto. “Nenhum País do mundo tem esta quantidade de empresas. Além disso, as tentações são muito grandes neste segmento, como a compra de um terreno subavaliado, venda de um imóvel abaixo do preço, subfaturamento. Eu prefiro trabalhar com segmentos mais protegidos a correr outros riscos”, diz.

Dentre os critérios usados na escolha das ações, Parisotto afirma que um dos mais importantes é o Preço/Lucro (P/L). O segundo critério é o Dividend Yield que as empresas oferecem de remuneração. O dividend yield é visto por Parisotto como dinheiro novo que entra para a compra de mais ações.

Outro critério relevante, para a eleição das 12 empresas que entram na carteira dele, é a liquidez seca, ou seja, a situação de solvência da companhia, que seria o seguinte: de cada R$ 1,00 devido pela empresa, quantos outros reais a companhia tem em caixa ou em contas a receber. Não vale conta estoque.

O experiente investidor também diz que é bom ficar de olhos bem abertos nas atitudes dos empresários que estão no comando de empresas negociadas na bolsa. “Quer saber se o executivo trabalha de verdade? Veja se ele contrata auditor ou consultor. Se há o costume de trazer consultores, caia fora da empresa porque o executivo não está fazendo o dever de casa. Fique longe de empresas que contratam muita consultoria”, afirma.

Abaixo, estão os 10 mandamentos do investidor bilionário, Lírio Parisotto:

1) NÃO PERCA TEMPO COM IPO, VOCÊ PAGA A CONTA LITERALMENTE
Eu aviso que IPO é aventura de capital. É feito “road show”, festa, contratação de bancos, impressão de materiais de primeira qualidade, anúncios em jornais. Sabe quem paga a conta? Adivinhe? Você que aplica nas ações! Quem subscreve as ações paga literalmente a conta. Não vou dizer que 100% dos IPOs são maus negócios. Em toda regra, há uma exceção. Mas, é duro ganhar a vida com IPO. Na prática, se você comprar as ações, vai pagar as contas dos envolvidos no IPO. Não deveria ser feito dessa forma. É necessário um controle maior do mercado sobre esta prática.

2) POUCA DIVERSIFICAÇÃO! UMA AÇÃO POR MÊS É MAIS QUE SUFICIENTE
Quanto mais empresa você colocar na sua carteira, maior é a prova que você não acredita naquilo que está comprando. Tenho 12 ações em minha carteira porque, com 55 anos, já não tenho a coragem e a personalidade de escolher só dois papéis. No final do ano, quem vai fazer a diferença de rentabilidade são duas ou três ações apenas. É importante ter poucas ações em carteira para acompanhar bem cada uma das companhias. Devem ser analisados os balanços, balancetes, evolução dos produtos no mercado, atitude dos executivos das empresas, por exemplo.

3) NUNCA COMPRE COISA QUE VOA, NEM QUE FABRICA O OBJETO VOADOR, COMÉRCIO VAREJISTA IDEM

Este é o meu conceito. Vou mencionar várias empresas varejistas que quebraram nos últimos anos. Talvez, você nem se lembre mais: Mesbla, Mappin, Arapuã, Casas Centro, Lojas Hermes Macedo, Rede de eletrodomésticos Brastel, G. Aronson, Lojas Brasileiras. Mencione uma siderúrgica que quebrou? Se souber de uma companhia elétrica que quebrou, apesar do racionamento em 2000, me avise. Não pode quebrar empresa de energia elétrica. No entanto, no setor aéreo, três grandes companhias quebraram em um instante: Varig (sobrevivendo com nome de terceirizada), Transbrasil e Vasp.

4) FIQUE LONGE DAS EMPRESAS COM SEDE EM PAÍSES EXÓTICOS
Nós temos de olhar as leis brasileiras que já são difíceis de serem interpretadas e seguidas corretamente. Imagine a dificuldade para analisar uma empresa criada em outro país. Ou de uma empresa que se transfere para o exterior para depois abrir capital aqui. Não são muitas, mas existem alguns casos a serem evitados.

5) NÃO COMPRE EMPRESA QUE DÊ PREJUÍZO, EMPRESA COM LUCRO NÃO QUEBRA
Parece óbvio, mas as pessoas ainda seguem dicas. Todo mundo tem uma dica quente. Deixo a dica para você usar da melhor forma possível, porque eu não quero saber de nada quente.

6) LIQUIDEZ É FUNDAMENTAL, PRECISAMOS SEMPRE DA PORTA DE ENTRADA E DE SAÍDA
Há por volta de 500 empresas de capital aberto. Do total, na bolsa, apenas 300 são negociadas duramente. Destas, umas 10 devem ser responsáveis por 80% das negociações registradas. Quando você aplica em empresas que ficam dias sem negociar, terá entraves. Se quiser gastar R$ 1 milhão, não conseguirá comprar. Imagine a dificuldade na hora de vender os papéis! Basta uma quantia ínfima para a ação apresentar valores que não são reais, gerando informação manipulada.

7) PROCURE COISA BOA E BARATA, BOM TEM BASTANTE, BARATO IDEM. AS DUAS JUNTAS SÃO DIFÍCEIS
Cuidado com o Preço/Lucro (P/L) absurdo que algumas companhias apresentam. Não adianta dizer que a empresa é boa, precisando esperar 50 anos de lucro para se chegar ao preço dela no mercado. Fuja destas. Em média, o P/L no Brasil está em torno de 15. Nos países de primeiro mundo, Japão, Estados Unidos e da Europa, O P/L está em torno de 30. No Brasil, tem muita empresa boa e barata.

8) NUNCA DÊ OUVIDOS A ESPÍRITOS SANTOS DE ORELHA, FAÇA O DEVER DECASA: ANALISE E AVALIE
Até meados de 2008, todos eram o gênio da bolsa. Era fácil ganhar dinheiro com o mercado de capitais em alta, subindo há cinco anos direto. A única diferença é que um ganhava muito e ou outro, menos. No movimento de queda da bolsa, não há motivo para vender as ações se for feita a análise e a avaliação correta dos números da companhia. O dinheiro tem de ser aplicado almejando o longo prazo. Não venda o papel da companhia por causa do mercado. Tenha bastante cuidado em quem vai investir, pois aí mora o perigo. Os gráficos sempre buscam o maior do passado.

9) TENHA CORAGEM E PERSONALIDADE DE ENFRENTAR A MARÉ CONTRÁRIA, CONTROLE O MEDO NA QUEDA E A GANÂNCIA NA ALTA
Quando o mercado cair, com os preços das ações já reduzidos, não saque o que continua aplicado. Controle seu medo e coloque mais dinheiro. No movimento de alta, também é difícil saber a hora exata de sair. Às vezes, após o saque do dinheiro, o mercado continua andando mais 10%, mais 20% e você fica se martirizando por estar perdendo a oportunidade. Também não faça nada. Não vai comprar novamente as ações dois meses após a venda. É difícil de controlar o impulso.

10) APOSTE NUM AZARÃO, SÓ PARA TER MOTIVO DE SE DESAFIAR E DIVERTIR-SE
Investir é divertimento. Divirta-se e aproveite a vida. Não fique estressado, mal humorado, tenso e preocupado a ponto de perder o sono, deixar de estar com a família, prejudicando o trabalho… tudo porque a bolsa subiu ou caiu. O fato de sobrar dinheiro para você aplicar em ações, já sinaliza que você é uma pessoa diferenciada. Dentre as 12 ações presentes em minha carteira, sempre tive um azarão. Para mim, azarão não é subir 100%, mas trabalhar para a ação valer de 3 a 4 vezes mais. Já foi o azarão da minha carteira o papel da Randon, quando custava R$ 0,20 ou R$ 0,30 centavos em 2002 ou 2003. Depois, chegou a valer R$ 20,00.

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