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11 de setembro de 2015

As novas regras do jogo tupiniquim: apertem os cintos – (mais) turbulências adiante!

Acredito que grande parte das pessoas conhecem a história do navio “inafundável” construído no início do século XX que, em sua primeira viagem teve como destino o fundo do oceano Atlântico: o Titanic. De acordo com o que se tem relatado da época, investidores e engenheiros diziam que era uma embarcação incapaz de afundar, que “nem Deus era capaz de fazer o navio sucumbir”... pois é... há mais de 100 anos (exatamente na madrugada de 15 de abril de 1912) o navio se chocou com um iceberg e em poucas horas foi para o fundo do mar. Mais de 1500 pessoas entre passageiros e tripulantes morreram nessa catástrofe marítima ao norte do gélido oceano Atlântico. Se você quiser assistir à uma versão hollywoodiana do acontecimento, pode encontra-la no filme Titanic de 1997 estreado por Leonardo DiCaprio e Kate Winlest, ganhador de 11 prêmios na noite de premiação do Oscar 1998.

Saiamos um pouco da história e do cinema e voltemos nossa atenção ao Titanic tupiniquim. Não se trata, obviamente, de um navio e sim da situação político-econômica em que o Brasil vive. Estamos presenciando momentos muito difíceis em termos de economia real: inflação alta (mesmo, mesmo!), taxas de juros bastante elevada, mais impostos à vista, especulações sobre impeachment da presidente do Brasil, dólar chegando e, em alguns lugares, até ultrapassando os R$ 4,00 e... dentre vários outros itens que posso citar, a última surpresa: a perda do Grau de Investimento (Investment Grade) por umas das três grandes agências de rating do mundo, a Standard & Poors (as outras duas são a Moody’s e a Fitch Ratings) – sendo que o principal motivo desse rebaixamento tem como justificativa a deterioração do cenário político nacional.

Vamos dividir o assunto em três partes: primeiro esclarecer um pouco sobre o que é rating, o que são e o que fazem essas agências e o que aconteceu com o Brasil; depois as prováveis implicações disso para nossa economia; e, por fim, como isso pode refletir na sua vida e o que você deve procurar fazer.

O que é rating, o que são e o que fazem as agências de risco?

O rating (também chamado, entre outros, de classificação de risco, avaliação de risco ou nota de risco) é uma nota relativa ao risco de emprestar dinheiro à um emissor de dívida (por “emprestar dinheiro” entenda-se “investir”) e leva em conta a capacidade desse emissor devolver o dinheiro tomado com os juros e nos vencimentos acordados. Pode-se dar uma nota de risco de crédito para uma pessoa física, uma empresa, um governo (município, estado ou país) ou de qualquer outro emissor de títulos de dívida – inclusive para alguns títulos dependendo de suas garantias, como as debêntures. O propósito de uma empresa ou instituição emitir títulos de dívida é o de financiar as operações e os investimentos (qualquer que seja o emissor).

Mas o que as agências de rating fazem? Elas avaliam, de acordo com vários critérios, o perfil daquele emissor emitindo um parecer técnico ou uma nota de crédito. Essas notas, conforme foi dito, são aplicadas principalmente a governos e empresas. Quanto melhor a nota, menor o risco de calote; quanto pior a nota, maior a probabilidade de calote. Até então, o Brasil detinha a nota BBB- para a agência de risco Standard & Poor’s (S&P) e passou a ter nota BB+. No caso desta mesma agência, no caso de dívidas de longo prazo, notas melhores ou iguais a BBB- classificam o emissor como capaz de honrar seus compromissos e, portanto, auferem-lhe o grau de investimento. Notas piores ou iguais a BB+ classificam a operação com o emissor como arriscada e auferem-lhe o grau especulativo ou, na linguagem do mercado, como junk (lixo, em inglês).



Resumindo: se a situação estava ruim isso pode ser um prenúncio de que ela pode piorar ainda mais, infelizmente.

Quais são as implicações para o Brasil?

Variadas implicações. As principais que podemos citar são:

Com a perda do rating soberano a saída de capital e de investidores é inevitável. Existem fundos mútuos e de pensão que só podem manter os ativos se o país tiver grau de investimento. O cenário fica ainda mais grave se vier a decisão similar de outras agências de risco, como Moody's e Fitch. Sim, podem ter bilhões de dólares saindo do Brasil “só” por conta desse rebaixamento.
Além do mais o capital tende a ficar ainda mais caro, especialmente para as empresas. O mercado, portanto, perde competitividade e se encolhe. E se intensifica o que já estamos percebendo: diminuição de postos de trabalho, aumento da inflação, encolhimento da indústria e da economia, do consumo, perdas e prejuízos sociais, aumento de impostos...

Como isso tudo pode te afetar e o que você deve procurar fazer?

Com um cenário desses é praticamente intuitivo imaginar que você e sua família podem ter mais dificuldades em assuntos que envolvam dinheiro.

Está pensando em fazer uma viagem? Pois bem, seja para o exterior ou mesmo dentro do Brasil o custo tende a ficar bem maior.

Está pensando em financiar algum bem com prazos longos – uma casa, um carro? Hum... o custo do financiamento também será maior (aliás, já está maior) e com os juros envolvidos na operação você poderia, quem sabe, comprar mais uns dois bens daquele que deseja financiar.

Reformar a casa? É bom repensar porque tudo tende a ficar mais caro.

Você deve estar se perguntando: “Poxa... então quer dizer que eu não vou poder fazer mais nada?”. Não, não é isso. O que ressalto é que se já era importante, agora é IMPRESCINDÍVEL você se planejar financeiramente. Fazer as coisas por impulso pode te levar a um cenário de extremo endividamento (caro) que pode se arrastar por anos para se resolver. Anos! Não ter controle sobre o seu dinheiro pode fazer com que você não perceba para onde ele está indo e ter a sensação e a posterior constatação de que está faltando dinheiro, quando medidas de correção poderiam ter sido tomadas se você vigiasse de perto suas finanças.

Esses tempos exigirão mais dedicação, cuidado e disciplina com sua vida financeira. Deixe de fazer isso e pagará preços mais caros pela sua irresponsabilidade e negligência. Aquele dinheiro pago em juros seria muito útil tanto para a manutenção de sua vida como, mesmo em tempos difíceis, realizar seus sonhos.

Não se iluda ou sofra o “Efeito Titanic”: aquela ideia de que sua vida (financeira) é infalível, que o que você tem é à prova de falhas – isso é pura ilusão. Pequenos erros furos acontecem e se percebidos com antecedência podem fazer com que você tenha uma viagem sem muitos percalços. Mas se não cuidar desses erros, eles se acumularão e afundarão o seu navio, a sua vida financeira pessoal. A agilidade é determinante para que você possa consertar, encontrar soluções e minimizar perdas. Já temos exemplos de sobra que essa forma de governar não funciona.

Faça o dever de casa: controle seu dinheiro, registre seus gastos e recebimentos, projete despesas e receitas para o futuro, e, se for realizar qualquer decisão de consumo, seja uma pequena compra ou aquisições maiores, avalie se é possível assumir o compromisso. Não faça contabilidade mental: coloque as projeções no papel ou, melhor (porque é mais fácil), numa planilha.

Apertemos o cinto. Fortes turbulências adiante!

(a data da publicação do post foi espontânea, apesar de sugestiva!)

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