Artigo originalmente postado em Gestor FP.
O
assunto é longo, técnico, mas muito interessante para sabermos como nosso
autocontrole funciona, visto que ele é uma das principais fontes de reclamação
da maioria das pessoas: “eu não consigo
controlar minhas finanças; passo em um shopping e acabo tendo que sair com
alguma coisinha” – dentre várias outras falas que vocês mesmos podem citar.
Pois bem, estratégias existem. Meios para se conseguir alcançar seus objetivos
também estão aí, disponíveis. Às vezes o que falta é a informação necessária
para aplicar tais estratégias. Vamos aos experimentos da Teoria do Controle
Contra Ativo para procurarmos compreender como aplicar tais informações em
nosso dia-a-dia.
Primeiro experimento: o
fator punição
O
primeiro experimento investigou como o desconforto associado com um teste de
glicose afeta a disposição das pessoas que estão motivadas a pagar uma “multa”
por uma possível falha no teste.
Basicamente,
o experimento consistia de duas situações: um grupo de participantes teria que
se abster do consumo de glicose por um curto período de tempo (6 horas) e outro
grupo teria que se abster por um período maior (3 dias). Após a aceitação do
teste, os participantes disseram ao examinador o quanto estariam dispostos a pagar
caso não mantivessem essa abstinência (penalidade auto imposta). Concomitantemente,
o experimento comparou as escolhas de um grupo de participantes que determinaria o próprio nível de penalidade
com outro grupo que determinaria a
penalidade para outras pessoas.
O
resultado, graficamente, foi o seguinte:
Esses resultados forneceram um suporte inicial à teoria do CCT relacionado a um desconforto temporário de um teste com penalidades auto impostas, caso o mesmo não fosse cumprido. É interessante observar que o grupo que determinou a penalidade para outras pessoas admitiu uma multa mais baixa quando a desistência se tratava da situação em que o tempo de abstinência é maior (3 dias), sendo que o grupo que determinou o valor para ser multado (“multa” auto imposta) mostrou um padrão inverso. Aparentemente, esses participantes usaram a penalidade monetária como uma estratégia de autocontrole. Apesar da tentação provocada longa abstinência de açúcar ser forte – porém resistível – os participantes do primeiro grupo se auto impuseram multas maiores caso falhassem.
Observando
apenas o lado econômico do experimento, esse deveria ter conduzido os
participantes envolvidos para se imporem uma pequena penalidade quando um longo
período de abstinência é necessário, porque, em si, um longo período de
abstinência faz com que o fracasso e a “multa” se tornem bastante prováveis. A
constatação de que as penalidades auto impostas eram positivas ao invés de negativas
relacionadas com a duração do período de abstinência sugere que os
participantes usaram as penalidades para garantir que a abstinência não os
impedissem de alcançar seu objetivo a respeito de seus hábitos alimentares.
Se observarmos
pela ótica das finanças pessoais, podemos levantar algumas situações das quais
nos deparamos. Pensemos no exemplo de um financiamento: imagine que você deseja
comprar um computador. Hoje você tem o seu equipamento, funcionando bem, te
atende bem, mas está chegando o momento de fazer upgrade para ter acesso a
outros tipos de funcionalidades e inovações que facilitariam sua vida e seu
trabalho. Mas toda troca, toda compra, tem um custo. Digamos que esse
equipamento custasse à vista R$ 5.000,00 – uma máquina poderosa! Você, como
disse, não tem necessidade de ter o equipamento agora. Diante disso, você
decide optar por se esforçar e poupar o dinheiro para comprar o computador à
vista – nesse caso, o desafio está em resistir à tentação de ter o bem agora
para não incorrer em “multas” que seriam os juros de um financiamento.
Extrapolemos
um pouco mais. Duas situações: uma você tem reservas financeiras
emergenciais e outra situação em que esses recursos não existem. Se
você precisar do dinheiro para um imprevisto que justifique o resgate (questões
sérias de saúde, por exemplo) você pode repor suas reservas aplicando uma taxa,
um “juros”, ao recompor a reserva. Agora lanço uma pergunta: qual seria o
tamanho desse “juro”? Provavelmente você seria generoso e cobraria 0,5% a.m. de
você mesmo – afinal, o dinheiro vai ser pra você mesmo, certo? Só que vamos
contrapor com a segunda situação: você não tem reservas, aconteceu o imprevisto
sério e você precisa de dinheiro. Decide procurar ajuda com empréstimos
bancários. Provavelmente o banco não será tão generoso com você e cobrará juros
maiores (há casos e casos, eu sei. Mas é só para elucidar a diferença de visão
desse experimento relacionando às finanças pessoais). Muitos outros exemplos
podem ser lembrados e discutidos. Mas, por enquanto paremos por aqui.
No
próximo post, falaremos sobre o segundo experimento que, ao invés de punição,
trata de recompensa.
Até!
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