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11 de julho de 2011

Casal: aprenda a investir de forma conjunta!

É redundante e inevitável, mas as primeiras e mais simples regras das finanças pessoais são:


Gaste menos do que se ganha

e

Invista (bem) a diferença.


Certo. Até então nenhuma novidade. Mas o ponto é: e quando se "junta as escovas de dente"? A regra ainda continua valendo, e deve-se observar alguns pontos importantes para não gerar fortes conflitos entre o casal e ganhar em tempo e eficiência quando se trata de investimentos. Com o casamento (além das escovas de dente) passa-se a ter dois salários, duas cabeças pensando, duas formas -muitas vezes- diferentes de lidar com o dinheiro: o que chamo de "modelo mental". Alguns têm o dinheiro como símbolo de liberdade, outros de status, outros sinônimo de prazer ou ainda aqueles com o sentimento de segurança. Significados diferentes e, em alguns casos, conflitantes.

Então, o que fazer se meu companheiro(a) lida de forma diferente num aspecto tão importante da vida? Penso que a resposta é criar um modelo para o casal. Por exemplo: digamos que em um casal, o marido carregue com ele o sentimento de que dinheiro deve ser acumulado para proporcionar liberdade: de escolha, de tempo, de consumo, etc; e a mulher, carregue com ela o sentimento de que dinheiro deve proporcionar prazer: prazer da compra, do impulso, de ajudar alguém, etc. São dois comportamentos conflitantes que, se mal entendidos, podem esquentar a relação: se a mulher gasta, o marido pode sentir que ela está minando a liberdade dele; por outro lado, se ele deixa de consumir e poupa, a mulher pode entender que é ele quem está tirando o direito dela viver. Complicado, não!? Mas é assim (e até pra pior) o princípio das ásperas brigas sobre dinheiro - mas o problema não é o dinheiro, mas a forma diferente com que cada um lida com ele.

Certo. Como resolver? O caminho começa pelo diálogo e compreensão do outro. O entendimento maduro do porquê da outra parte se comportar daquela forma. Não significa apontar os erros do outro em tom de acusação, NÃO! Muitas dessas atitudes estão relacionadas à vivência , ao aprendizado e às experiências passadas que cada um teve. Envolve, sim, reflexão e exposição de fatos e acontecimentos de ambos os lados. Depois de entendido, de assimilado o que ocorre do outro lado, pode-se estabelecer um modelo de conduta que seria interessante, importante e conveniente para o casal POR ESCRITO. Por que por escrito? Porque se o modelo for definido, e não for documentado, vai se perder nuances e detalhes importantes com decorrer do tempo. "Ah... mas isso não impede que se tenha brigas por conta de dinheiro". Não, acredito que não impeça. Mas, a partir do momento em que se decidiram "juntar as trouxas", uma "terceira entidade", o "nós", foi estabelecido e, como todo relacionamento, deve-se aprender com o outro e construir pontes, não barreiras. Quando acontecerem as brigas, pode-se recorrer à esse acordo mutuamente estabelecido em um momento em que ambos estavam de cabeça fria e redirecionar para a solução do(s) problema(s).

Após esse momento psicológico, vamos para a parte financeira. No livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos de Gustavo Cerbasi (Ed. Gente, 2004), o autor usa uma frase interessante: "Planos comuns jamais serão construídos de modo eficiente se tudo no relacionamento for dividido. Perde-se em eficiência, em organização e em resultados". Quero chegar à parte dos resultados, mas vamos discorrer um pouco sobre os outros aspectos.

Provavelmente, no casal, existe uma pessoa que é mais organizada em relação às finanças. Deve-se procurar unificar os orçamentos para simplificar e otimizar a gestão das contas. Inicialmente, não apontem ou critiquem determinado padrão de consumo, apenas registrem. Após levantarem as despesas, avaliem se sobra dinheiro (muitas vezes podem existir exageros ou "esquecimentos", o que é natural) e, se não sobrar o suficiente para seus planos de investimento (independência financeira, carro novo, casa nova, pós-graduação, viagem, etc), discutam e façam JUNTOS os ajustes necessários. Volto a lembrar que o casal deve planejar seu futuro, não somente o futuro individual. Preferencialmente, unifiquem os cartões de crédito avaliando quais deles oferecem mais vantagens - e acabem por economizar também em anuidades. E as contas bancárias, devem ser unificadas? Depende. O ideal é que isso aconteça e deve-se avaliar o melhor relacionamento bancário, as melhores condições, taxas e serviços; porém, o casal pode preferir manter contas separadas - só não se esqueçam que se tiverem mais de uma conta pagarão mais taxas, terão que administra-la (um pouco mais de trabalho), mas, às vezes, pode ser importante que cada um tenha a sua. De qualquer forma, façam esse processo de modo gradativo, dando espaço para que cada um aprenda com o outro - inclusive aprendendo novos hábitos e melhorando aqueles que são prejudiciais.

Chego, portanto, onde queria: resultados. As metas devem ser estabelecidas a dois. Porém, é muito provável que cada um tenha sonhos a serem realizados, realizações que ainda não puderam ser conquistadas. O parceiro gostaria de fazer aquela pós-graduação que teve de adiar para casar ou aperfeiçoar o francês para obter melhores oportunidades. Além dos sonhos conjuntos, cada um tem os próprios sonhos. E aí!? Separar os investimentos? Não, especialmente porque o dinheiro pode perder em eficiência quado está em menor quantia. Vamos exemplificar.

Digamos que o marido queira fazer uma pós-graduação que custe R$ 15.000,00 e que a parcela custe R$ 750,00/mês durante 24 meses à taxa de 1,5% a.m. Mas, ao mesmo tempo, a mulher queira fazer uma reforma na casa que foi orçada em R$ 8.000,00 e que tenha previsão de ser concluída em 3 meses. E, ao mesmo tempo, o casal decidiu poupar R$ 500,00/mês para sua aposentadoria daqui 25 anos. Deve-se colocar cada plano em um investimento diferente? Geralmente não. Nesse caso, apesar de se ter três objetivos diferentes, para não se perder eficiência, deve-se colocar o dinheiro num bolo só - respeitando, claro, o príncípio da diversificação e do perfil do casal (se quiserem dêem uma olhada no post do colega blogueiro Henrique Carvalho sobre Alocação de Ativos).

A maioria das pessoas, especialmente por falta de informação e imediatismo, fariam tais coisas "na raça": faz primeiro e depois vê como se paga. Mas ao adotarem essa atitude, pode-se pagar mais caro. Só para exemplificar: se se optar por fazer a pós-graduação financiada, o valor pago será de R$ 18.000,00 - 20% a mais do que o valor à vista. Além do mais, se a reforma for financeiramente mal planejada, pode vir a comprometer as contas domésticas ou, também, tanto a pós-graduação e (pior) o plano de aposentadoria (que gosto de chamar de plano para a independência financeira): e, normalmente, esse último pode ser o primeiro alvo. E mais: reformas levam somas vultosas de dinheiro em pouquíssimo tempo.

Mas como fazer as três coisas acontecerem? Primeiro: o casal deve entrar em acordo e decidir não abrir mão do seu plano de independência financeira - ele é muito importante, pois garante o futuro dos dois. Mas como atingir as outras duas metas? Uma sugestão seria definirem um prazo para a realização dos dois objetivos ao mesmo tempo. A reforma pode esperar? Se não for nada urgente, é provável que sim. A pós-graduação pode esperar? Muito provavelmente sim: os efeitos na carreira de uma pós-graduação -salvo algumas exceções- pode demorar a aparecer; as decisões financeiras impensadas não esperam. Então, digamos que ambos entrem em acordo e decidam adiar o consumo por 24 meses.

Simplificadamente, deveriam poupar R$ 960,00/mês durante esse período para atingir os dois objetivos (R$ 960,00 x 24 = R$ 23.040 (R$ 8.000,00 + R$ 15.000,00). Parte dessa parcela seria para a pós-graduação (R$ 626,09) e parte seria para a reforma (R$ 333,91). Observe o valor mais perceptível: a curso estará saindo mais de R$ 100,00/mês mais barato, se pensarmos em termos de parcela. Mas, e se usarmos o poder do investimento? Vamos considerar que a parcela de R$ 500,00 esteja em um investimento que renda 0,70% a.m. líquidos de inflação e Imposto de Renda. Se esse é o investimento adequado ao risco do casal, pode-se "potencializar" a parcela de R$ 500,00 com os R$ 960,00 a mais da pós e da reforma. Daí, não se perde em eficiência - pelo contrário: ganha-se bem mais. Uma maior quantidade de dinheiro concentrada tende a gerar mais dinheiro por conta do poder dos juros compostos e, dependendo do perfil do casal, pode-se ter acesso à investimentos mais rentáveis devido o maior volume financeiro aplicado.

Vamos aos cálculos: Parcelas de R$ 1.460,00 durante 24 meses à taxa líquida de 0,70%. Resultado: R$ 38.010,99. Tira-se R$ 23.000,00 e fica-se com R$ 15.010,99 do plano de independência financeira.

Comparemos resultados: se o casal fizesse a opção por financiar a pós-graduação, teriam gasto R$ 3.000,00 além do preço à vista; além disso, se também fizessem a opção de arcar com as despesas da reforma, muito provavelmente, o plano de independência financeira poderia ser comprometido (sabemos que quando se trata de reformas e/ou construção, acaba-se gastando um pouco mais do que o previsto). Com o planejamento financeiro, ganhou-se eficiência, pagamentos à vista, mais juros (R$ 1993,53 a mais) e realizações satisfatórias sem dor de cabeça.

Ah! Só para terminar: quando concluir alguma coisa importante bem planejada que atinja sucesso, não se esqueça de COMEMORAR! Afinal, o esforço sempre vale a pena!

3 comentários:

  1. Olá. Parabéns pelo blog. Ultimamente tenho dedicado considerável tempo aos estudos para adquirir educação financeira e buscar a tão sonhada independência financeira. No entanto, noto ser praxe comum a utilização de exemplos com taxa líquida de 0,7% ao mês, em renda fixa, descontado o IR e inflação, o que me leva a questionar: quais seriam esses investimentos?? Grato.

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  2. Especialmente por conta da alta da inflação, temos que selecionar bem os investimentos. A meu ver, olhando para o longuíssimo prazo, poderia-se investir nas Notas do Tesouro Nacional (NTN) indexadas ao IPCA que, esse ano (com taxas anualizadas), já chegou a ter 19,66% de rendimento. Com uma taxa dessas, conseguiria-se mitigar o efeito inflacionário e ainda o efeito do IR. Outra alternativa (assunto de um dos próximos posts) é especular na bolsa: mesmo com o mercado em baixa dá para ganhar dinheiro, porém tem que ter estratégia e muita disciplina nas operações. Além disso, vale selecionar empresas que pagam bons dividendos. Abraço.

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