Busca

1 de maio de 2011

Quem disse que "santo de casa" não faz milagre?

Essa é uma história real. Não vou colocar os valores certos: eles podem estar divididos por dois, multiplicados por quatro ou de qualquer outra forma, isso para preservar a identidade das pessoas dessa história. Porém, as taxas serão aproximadas.

Há algumas semanas eu comecei a  resolver os problemas financeiros de uma família. De acordo com o que colhi e tive acesso (acesso irrestrito, devido a confiança estabelecida) não se sabia absolutamente quanto entrava de receita, nem quanto saía e pior: para onde saía. Uma situação delicada de descontrole que, a meu ver, muitas famílias brasileiras enfrentam tais problemas e dificuldades - muitas vezes até piores.

A primeira coisa que fiz foi identificar o consumo e valor financeiro gasto nas necessidades básicas dessa família: alimentação. Levantamos valores para padaria, feira, açougue, supermercado - nesse último tive o privilégio de ter a experiência de saber quanto custa cada coisa dentro de uma casa, afinal eu não tinha feito uma lista de compras e efetuado a compra em um supermercado. Depois, levantamos informações referentes ao custo básico para toda família: conta de energia, conta de água, telefonia, internet, gás, enfim, coisas que são indispensáveis na vida de hoje. Identifiquei algumas inconsistências e erros que foram cometidos: na mesma casa havia duas linhas de telefone (uma delas com internet banda larga), sendo que uma poderia ser cancelada, já que na outra poderia se colocar internet junto - isso era um luxo desnecessário. Entre os telefones móveis, um deles era totalmente desnecessário e foi cancelado - uma economia que fazia sentido, claro. Daí, tive acesso aos cartões de crédito e a situação financeira do chefe da família: dois cartões de crédito com faturas elevadíssimas, três créditos pessoais em débito automático, quatro seguros de vida que cobriam a mesma coisa, e vários outros cartões (alguns private labels, outros de bancos em que não é necessário ter conta corrente para se ter). Essa parte estava bem bagunçada...

Fui estruturando o orçamento doméstico e entendendo o comportamento de consumo, já que tive acesso a todas as contas em questão. Alguns desvios nas contas básicas, mas bem esporádicos... Mas o que me preocupou bastante foi o comportamento com o cartão de crédito: nas faturas analisadas desde 2007, aconteceram ao menos quatro parcelamentos de fatura motivados por impossibilidade de quitação integral desse instrumento financeiro. Conversando com essas pessoas pude entender que, de fato, muitas vezes as coisas fugiam do controle: e isso levava a se pagar apenas o valor mínimo - a pior coisa a se fazer quando se trata de cartões de crédito.

Daí eu já tinha um cenário:
  • contas de alimentação: R$ 840,00 +/-;
  • contas básicas (água, luz, telefone, etc): R$ 350,00 +/-
  • crediários no banco: R$ 665,00 +/- (com prazos diferentes cada um dos três - um no início, outro no meio e outro no final do mês e débito automático)
  • faturas dos dois cartões de crédito: R$ 4.600,00 +/-
  • lançamentos futuros: R$ 3.740,00 +/-
  • outras dívidas: R$ 580,00 +/-
Resumindo: a coisa estava complicadíssima.

Após levantar quanto e para onde saía o dinheiro, tratei de levantar as receitas. O chefe da família é empresário, portanto autônomo, e então tem receitas variáveis ao longo do ano. Tive acesso a todos os contratos firmados nos dois últimos anos e pude estabelecer uma média de receita bruta e líquida: essa última no valor médio mensal de R$ 1.800,00 +/-. Nesse caso, entendo, é delicado manter esse valor fixado, porque, afinal, a renda é variável, e depende dele e dos contratos ainda a serem fechados nos próximos meses. Mas, de qualquer forma, tinha-se que saber, em média, quanto entrava por mês.

Outra atitude que foi acertada e realizada foram os cortes dos itens desnecessários: cancelamento de uns três ou quatro cartões Private Label, cancelamento da linha de telefone extra -que era desnecessária- e cancelamento de um telefone celular. Além disso, nas contas da empresa identificamos alguns serviços que também não eram necessários e estavam sendo pagos, pois eram considerados como impostos: portanto, cancelados. Cancelamos os seguros e, em breve, faremos um que cubra de forma consciente o que realmente for necessário. E, por fim, o mais doloroso: as dívidas.

Esse item passou por várias simulações e possibilidades. Os crediários estavam assim: o mais antigo já estava na metade, faltavam 14 parcelas de R$ 232,00 (30 parcelas no total à taxa de 4,97% a.m.) ; no segundo faltavam ser pagas 40 parcelas de R$ 282,00 (48 parcelas no total à taxa de 5,20% a.m.) ; e o terceiro faltavam 11 parcelas de R$ 151,00 (14 parcelas no total à taxa de 5,85% a.m.). Valores elevados, com taxas altas... A dívida real (sem os juros) dos crediários eram, respectivamente: R$ 2.300,00, R$ 4.630,00 e R$ 1.200,00. Os cartões de crédito estavam em situação tão delicada quanto: a bandeira A com dívidas totais (fatura + lançamentos futuros) de R$ 3.760,00; bandeira B com dívidas totais (fatura + lançamentos futuros) de R$ 4.580,00. Dívidas com banco e administradoras: R$ 16.470,00.

Um belo descontrole, não!? E a família nem tinha noção de que esse era o tamanho da complicada situação financeira. Bem, eu teria que encontrar uma solução - e rápido, antes que a próxima fatura do cartão viesse e realizasse seu processo de incidir 13% sobre o saldo remanescente da fatura, caso ela não pudesse ser paga por completo.

Conversando, calculando, simulando, conseguimos encontrar uma linha de crédito mais barata que todas as dívidas: a 4,30%. E a instituição financeira concedeu todo o crédito necessário para se quitar por completo esse fantasma destruidor de lares: dívidas. Conseguimos um crédito de R$ 17.000,00 (já descontados IOF e TAC -taxa de abertura de crédito). Quitou-se TODAS as dívidas por completo. Em realidade, trocamos uma dívida cara (um tanto de dívidas...) por uma mais barata. Vai se pagar juros? Sim, vai. Por outro lado, parou-se de gastar com juros elevados dos cartões, a família está com um "orçamento de guerra", como disse o professor Fábio Gallo da PUC-SP, já se tem prazo para término desse mal que se arrastava há quase ou mais de uma década, estão com um orçamento consciente, e essa tranquilidade sairá por 18 parcelas de R$ 1.375,00. Depois disso (se não for antes!), vamos dar os passos rumo à independência financeira dessa família: realidade totalmente factível, especialmente pelo hábito que se criará de "pagar" (em realidade investir) ao menos parte do que será gasto mensalmente com essas dívidas.

Detalhe: os valores estão diferentes, mas esse caso de sucesso é o da minha família.

Agradeço muito à minha amiga e sócia, Priscilla Cavalcante, pelo apoio, orientação e, especialmente, o trato nas relações: estive como mediador dessa história em que um erro, uma palavra mal colocada, qualquer desentendimento poderia abalar o casamento de mais de 25 anos de meus pais. Muito obrigado.

Comentem!

3 comentários:

  1. Parabéns pelo depoimento Philip.
    É como eu sempre digo em meu blog. Escrevo textos mesclando sobre investimentos, notícias, infográficos, economia em geral (nacional e internacional), dicas de consumo consciente e testemunhos do prório autor.
    Acredito que os leitores possam nos ver como pessoais normais como eles. Escrevendo sobre dicas de economia doméstica e etc...
    Parabéns e abraços.

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigado!

    Pretendo, se as famílias permitirem, claro, postar mais experiências como essa, pois cada solução traz um aprendizado diferente e um novo caminho.

    ResponderExcluir