O "value investment", como alguns já sabem, trata-se da "escola" de investimento a qual Benjamin Graham deu forma e Warren Buffet prestígio. Acredito que seja útil publicar o resultado desses esforços.
Note que não há nada revolucionário nestes conceitos. Muito pelo contrário, existem observadores do mercado que acham que são ultrapassados e que uma fortuna nebulosa voando é bem mais interessante do que lucro firme na mão. Tem outros ainda que consideram que se fixar somente em "preço" e "valor" é simples demais e preferem enfatizar elucubrações sobre "beta" e o "CAPM" (Capital Asset Pricing Model).
Na verdade, como outras grandes idéias, os conceitos de value investment são simples mas profundos e, por isso, possuem a capacidade de mudar a concepção das pessoas sobre o que exatamente é o mercado de ações. Vamos lá.
1. Enquanto uma empresa continuar a operar normalmente, ela possui um valor "intrínseco" baseado no potencial do negócio da empresa de gerar e distribuir lucros. Este valor intrínseco não é um valor exato mas uma faixa de possíveis valores que se desloca no tempo. Mesmo assim, em casos onde os resultados passados de uma empresa mostram uma relativa estabilidade de tendência, a faixa pode ser identificada com razoável precisão.
2. A bolsa não é um mecanismo para avaliar ações mas um ente coletivo sujeito às mais variadas emoções. Excetuando as oportunidades de aproveitar de seus momentos de pânico, a bolsa, para o value investor, é simplesmente um lugar onde ele executa suas operações de compra e venda.
3. Assim, ao longo do anos, o valor de uma empresa na bolsa oscila em volta de seu valor intrínseco, em muitos casos divergindo deste valor - particularmente quando a bolsa como um todo está em baixa - durante períodos prolongados. Mas como o mercado de ações é razoavelmente "eficiente" há sempre uma tendência do valor em bolsa voltar, no médio a longo prazo, para o valor intrínseco. São os períodos durante os quais o valor intrínseco excede significativamente o valor em bolsa que oferecem as boas oportunidades de compra.
4. Como não é possível calcular o valor intrínseco de uma empresa com precisão, e como a trajetória futura da empresa é sujeita a uma diversidade de influências, muitas negativas, é importante comprar uma ação quando seu preço oferecer um grande desconto sobre seu valor intrínseco. Esta "margem de segurança" minimizará a chance de perda e maximizará a possibilidade de ganho.
5. Para calcular o valor intrínseco de uma empresa é necessário analisar sua trajetória ao longo de pelo menos 10 e idealmente 20 anos, a fim de estabelecer uma base para projetar os lucros futuros. Devido à grande dispersão de seus resultados, no entanto, muitas empresas não se prestam a este tipo de estudo e devem ser rejeitadas como opções de investimento.
6. Se um investidor possuir o tempo e a perícia para identificar boas empresas com grande capacidade para gerar lucros, e se ele encontrar suas ações à venda a um preço atraente, ele deve investir uma percentagem significativa de seus fundos em cada empresa: tais descobertas são raras e oferecem oportunidades superiores de ganho. Em conseqüência este investidor terá poucas empresas em sua carteira e as manterá durante muitos anos. Como seus investimentos serão concentrados em poucas empresas o investidor deve conhecer estas empresas em profundidade e acompanhar de perto o desenvolvimento de seus negócios.
7. Se, ao contrário, o investidor não encarar seus investimentos como uma ocupação de tempo integral, ele deve enfatizar técnicas para minimizar seu risco. Ele deve concentrar sua atenção em empresas que são proeminentes em seu setor e que apresentam forte posição financeira, vendas substanciais, consistente geração de lucros e dividendos, crescimento razoável, e indicadores preço/lucro e preço/patrimônio líquido moderados. Ele deve estabelecer uma carteira com um mínimo de 10 empresas. Desta forma diversificando o risco, o desempenho médio de sua carteira compensará erros de avaliação ou o impacto de imprevistos no caso de algumas de suas escolhas.
8. Mas, mais importante de tudo, o investidor não profissional deve tomar medidas para evitar pagar caro por suas ações. Ele tem duas alternativas. A mais fácil é simplesmente assegurar preços médios do mercado. Para conseguir isso ele investe, na compra de ações, valores iguais a intervalos regulares (de um mês, um trimestre, ou um ano) ao longo dos anos. Embora o retorno possa aparecer amanhã, este investidor deve pensar num horizonte de investimento de pelo menos 5 anos. É a natural tendência de boas empresas expandirem seus lucros - e estes se refletirem na valorização de suas ações - que fornece a margem de segurança desta abordagem.
9. Na segunda alternativa o pequeno investidor adota uma postura mais ativa. Ele estabelece uma carteira a partir de uma estratégia, entre várias, que tentar identificar ações subavaliadas, baseada em seus indicadores de mercado. Ele pode, por exemplo, só investir em ações cujos indicadores preço/lucro e preço/patrimônio líquido se encontre abaixo de certos limites predefinidos. É o desconto no preço da ação evidenciado pelo desconto nos indicadores que representam sua margem de segurança. Mesmo assim, paradoxalmente, ele não tem nenhuma garantia de obter um retorno adicional como resultado de seus esforços.
10. Seja qual for a técnica adotada, qualquer programa de investimento deve, obrigatoriamente, incluir a aplicação de 50% de seus fundos, em média (e nunca menos de 25%), na renda fixa. Além de fornecer um colchão para emergências, a renda fixa complementa a renda variável, freqüentemente aumentando quando o retorno da renda variável diminui, por exemplo - e vice-versa.
*É importante entender que omitiu-se aqui o tratamento dado a um campo especializado, definido por Graham como "situações especiais". Embora o campo, que inclui, por exemplo, oportunidades surgidas de operações da cisão, aquisição e incorporação de empresas, seja atualíssimo no Brasil de hoje, é uma área que necessita de conhecimentos especializados.
Note que não há nada revolucionário nestes conceitos. Muito pelo contrário, existem observadores do mercado que acham que são ultrapassados e que uma fortuna nebulosa voando é bem mais interessante do que lucro firme na mão. Tem outros ainda que consideram que se fixar somente em "preço" e "valor" é simples demais e preferem enfatizar elucubrações sobre "beta" e o "CAPM" (Capital Asset Pricing Model).
Na verdade, como outras grandes idéias, os conceitos de value investment são simples mas profundos e, por isso, possuem a capacidade de mudar a concepção das pessoas sobre o que exatamente é o mercado de ações. Vamos lá.
1. Enquanto uma empresa continuar a operar normalmente, ela possui um valor "intrínseco" baseado no potencial do negócio da empresa de gerar e distribuir lucros. Este valor intrínseco não é um valor exato mas uma faixa de possíveis valores que se desloca no tempo. Mesmo assim, em casos onde os resultados passados de uma empresa mostram uma relativa estabilidade de tendência, a faixa pode ser identificada com razoável precisão.
2. A bolsa não é um mecanismo para avaliar ações mas um ente coletivo sujeito às mais variadas emoções. Excetuando as oportunidades de aproveitar de seus momentos de pânico, a bolsa, para o value investor, é simplesmente um lugar onde ele executa suas operações de compra e venda.
3. Assim, ao longo do anos, o valor de uma empresa na bolsa oscila em volta de seu valor intrínseco, em muitos casos divergindo deste valor - particularmente quando a bolsa como um todo está em baixa - durante períodos prolongados. Mas como o mercado de ações é razoavelmente "eficiente" há sempre uma tendência do valor em bolsa voltar, no médio a longo prazo, para o valor intrínseco. São os períodos durante os quais o valor intrínseco excede significativamente o valor em bolsa que oferecem as boas oportunidades de compra.
4. Como não é possível calcular o valor intrínseco de uma empresa com precisão, e como a trajetória futura da empresa é sujeita a uma diversidade de influências, muitas negativas, é importante comprar uma ação quando seu preço oferecer um grande desconto sobre seu valor intrínseco. Esta "margem de segurança" minimizará a chance de perda e maximizará a possibilidade de ganho.
5. Para calcular o valor intrínseco de uma empresa é necessário analisar sua trajetória ao longo de pelo menos 10 e idealmente 20 anos, a fim de estabelecer uma base para projetar os lucros futuros. Devido à grande dispersão de seus resultados, no entanto, muitas empresas não se prestam a este tipo de estudo e devem ser rejeitadas como opções de investimento.
6. Se um investidor possuir o tempo e a perícia para identificar boas empresas com grande capacidade para gerar lucros, e se ele encontrar suas ações à venda a um preço atraente, ele deve investir uma percentagem significativa de seus fundos em cada empresa: tais descobertas são raras e oferecem oportunidades superiores de ganho. Em conseqüência este investidor terá poucas empresas em sua carteira e as manterá durante muitos anos. Como seus investimentos serão concentrados em poucas empresas o investidor deve conhecer estas empresas em profundidade e acompanhar de perto o desenvolvimento de seus negócios.
7. Se, ao contrário, o investidor não encarar seus investimentos como uma ocupação de tempo integral, ele deve enfatizar técnicas para minimizar seu risco. Ele deve concentrar sua atenção em empresas que são proeminentes em seu setor e que apresentam forte posição financeira, vendas substanciais, consistente geração de lucros e dividendos, crescimento razoável, e indicadores preço/lucro e preço/patrimônio líquido moderados. Ele deve estabelecer uma carteira com um mínimo de 10 empresas. Desta forma diversificando o risco, o desempenho médio de sua carteira compensará erros de avaliação ou o impacto de imprevistos no caso de algumas de suas escolhas.
8. Mas, mais importante de tudo, o investidor não profissional deve tomar medidas para evitar pagar caro por suas ações. Ele tem duas alternativas. A mais fácil é simplesmente assegurar preços médios do mercado. Para conseguir isso ele investe, na compra de ações, valores iguais a intervalos regulares (de um mês, um trimestre, ou um ano) ao longo dos anos. Embora o retorno possa aparecer amanhã, este investidor deve pensar num horizonte de investimento de pelo menos 5 anos. É a natural tendência de boas empresas expandirem seus lucros - e estes se refletirem na valorização de suas ações - que fornece a margem de segurança desta abordagem.
9. Na segunda alternativa o pequeno investidor adota uma postura mais ativa. Ele estabelece uma carteira a partir de uma estratégia, entre várias, que tentar identificar ações subavaliadas, baseada em seus indicadores de mercado. Ele pode, por exemplo, só investir em ações cujos indicadores preço/lucro e preço/patrimônio líquido se encontre abaixo de certos limites predefinidos. É o desconto no preço da ação evidenciado pelo desconto nos indicadores que representam sua margem de segurança. Mesmo assim, paradoxalmente, ele não tem nenhuma garantia de obter um retorno adicional como resultado de seus esforços.
10. Seja qual for a técnica adotada, qualquer programa de investimento deve, obrigatoriamente, incluir a aplicação de 50% de seus fundos, em média (e nunca menos de 25%), na renda fixa. Além de fornecer um colchão para emergências, a renda fixa complementa a renda variável, freqüentemente aumentando quando o retorno da renda variável diminui, por exemplo - e vice-versa.
*É importante entender que omitiu-se aqui o tratamento dado a um campo especializado, definido por Graham como "situações especiais". Embora o campo, que inclui, por exemplo, oportunidades surgidas de operações da cisão, aquisição e incorporação de empresas, seja atualíssimo no Brasil de hoje, é uma área que necessita de conhecimentos especializados.
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