O terceiro experimento mostrou que as pessoas tendem a se autocontrolar quando são lembradas do porquê de terem que se autocontrolarem (você pode acessar o post clicando aqui).
Já o quarto experimento tentou avaliar se os esforços de autocontrole têm uma função não monotônica. Uma função monotônica, em matemática, é uma função que apresenta direção para cima ou para baixo e não inverte seu curso ao longo do tempo. No caso desse experimento a ideia é exatamente a contrária: a função NÃO monotônica não tem apenas um sentido em relação aos custos de curto prazo de uma atividade e, além do mais, esse teste procurou examinar se ao eliciar a ideia do autocontrole poderíamos diminuir a percepção desses custos de curto prazo no comportamento.
Os três primeiros experimentos mostraram que se a antecipação de algum desconforto em relação à uma atividade aumenta, as pessoas tendem a intensificar seu autocontrole – mas até certo ponto. Se a dificuldade ou desconforto se tornam elevados demais tais esforços podem cessar, fazendo com que os objetivos de longo prazo sejam prejudicados.
Para analisar essas premissas, no quarto experimento realizou-se um teste da função cognitiva à noite. Os participantes foram instruídos que o teste seria totalmente realizado por telefone por duas noites seguidas. Para variar o nível de desconforto, eles teriam de fazer uma ligação em um dos três horários distribuídos entre os grupos-teste: às 21:30, horário considerado conveniente; às 00:30, horário considerado pouco conveniente; ou às 3:30 (sim, da madrugada!), horário considerado muito inconveniente. Foram entregues aos participantes envelopes lacrados que continham duas atividades que deveriam ser realizadas no horário determinado após a ligação e a devida identificação do participante (tais atividades eram 1] desenhar uma árvore detalhadamente e 2] escrever de 1 a 5 associações de ideias com 15 palavras contidas no envelope).
Duas formas de autocontrole foram testadas: uma, similar ao experimento 3, reforçando a importância do teste (valor subjetivo); outra relacionando um significado emocional para se desempenhar o teste.
Seguem os resultados:
Basicamente os resultados mostraram que se os participantes decidem
realizar um teste que seja útil mesmo que temporariamente desconfortável, eles
criam meios para que se compense tal desconforto. Fazer um teste à meia noite é
muito menos conveniente que fazer o mesmo teste mais cedo. Porém, isso não diminuiu
o interesse pelo teste; pelo contrário: os participantes agregaram maior
importância e valor emocional do que se o realizasse mais cedo. Contudo, vale
atentar para os resultados do horário mais inconveniente (às 3:30): tanto a
performance como a ideia de importância caíram drasticamente.
Vamos pensar em um exemplo que se relacione às finanças pessoais. Uma
pessoa recebe seu salário líquido no valor de R$ 4.000,00, tendo um custo de
vida médio de R$ 2.500,00 (esse custo incluem despesas com habitação, saúde,
higiene e limpeza, educação, telecomunicação, alimentação, vestuário). Essa
pessoa reserva 10% de seu salário para poupança, ou seja, R$ 400,00.
Habitualmente ela usa os recursos que sobram e, depois de realizado um
diagnóstico financeiro, ela percebeu que
tem gastado R$ 1.100,00 com lazer, consumindo assim todo seu salário – bastante
dinheiro. Essa pessoa decide definir um objetivo: decide guardar a soma de R$
15.000,00 para trocar de carro daqui a 12 meses. A troca é importante por
alguns motivos, dentre eles: como essa pessoa trabalha viajando, atendendo
clientes, é interessante ter um carro melhor que proporcione mais conforto e
segurança em suas viagens; além do mais, é uma pessoa que gosta de dirigir
belos e bons carros: design e certa sofisticação são fatores que o atraem.
Observe que aqui existem paradigmas financeiros a serem rompidos, pois
essa pessoa, para atingir seu objetivo de poupança terá de destinar mais
recursos às economias que ao lazer. Pensando no experimento apresentado, qual
seria uma solução agressiva demais?
E uma solução mais moderada? A
solução muito agressiva seria, por exemplo, poupar os R$ 400,00 mais os R$
1.100,00, tendo apenas o foco de trocar de carro: ou seja, essa pessoa teria
uma demanda emocional deprimida que, a qualquer momento, poderia fazer com que
ela consumisse a reserva para seu objetivo; poderia fazer com que ela se
endividasse por cometer alguma loucura relacionado ao “eu mereço” (viagens não
planejadas, compras exageradas e fora do momento, etc); ou mesmo realizar a
poupança para trocar o carro, mas, ao fazer todo esse esforço, ela realizaria
seu desejo com uma sensação muito grande de sacrifício. A solução moderada, por
outro lado, seria ela gastar menos com lazer (fazendo inclusive um orçamento
detalhado para essa categoria de despesas) e reservar mais recursos para a
troca do veículo – ou seja: ao invés de gastar R$ 1.100,00 com lazer ou usar
todo esse dinheiro só para poupança, reservaria R$ 850,00 para a poupança (mais
os R$ 400,00) e usaria R$ 250,00 para lazer. Lógico que ainda parece bem
drástico, porém devemos lembrar que objetivos e prazos podem ser ajustados.
O propósito desse exemplo é mostrar que podem ser estipulados
meios-termos para que você alcance seu objetivo, para que possa se estimular a
ter autocontrole e ainda ter a fantástica sensação de realização plena. Dois
pontos importantes a serem ressaltados e previamente identificados são: a
importância que você confere ao seu objetivo (valor subjetivo) e o significado
emocional para alcançar aquilo que se almeja.
Em suma: altos níveis de desconforto intensificam o nosso autocontrole,
desde que exista sentido. Porém, se determinada atividade for desconfortável
demais, tendendo a ser insuportável, o autocontrole não é acessado e, portanto,
não é usado.
Em níveis moderados, o
efeito do desconforto é mais do que compensado pelo autocontrole. Em níveis
extremos, esse mesmo efeito enfraquece o autocontrole.
No próximo post trataremos do último experimento.
Até!
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