Artigo originalmente postado em Gestor FP.
O
primeiro estudo avaliou a disposição dos participantes a sofrerem uma
penalidade caso falhassem na abstinência para a realização do exame médico; o
segundo estudo avaliou a disposição dos participantes em cumprir o teste
recebendo uma bonificação, um prêmio, ao invés de uma multa. Esse experimento
teve como objetivo verificar se o desconforto temporário de uma atividade
provocaria esforços de autocontrole quando a falha para executar tal atividade
ameaçaria a realização de uma importante meta de longo prazo.
Os
participantes se ofereceram para um estudo de doenças no coração e, como parte
desse estudo, teriam que realizar um teste cardiovascular. Esse teste foi
descrito como podendo ter baixo ou alto grau de desconforto físico. Também foi
dito aos participantes que, caso cumprissem o teste, receberiam um bônus por
ter feito parte do estudo. A grande questão era se os participantes fariam com
que a bonificação, o prêmio, se tornasse o motivo para completarem o teste.
Primeiro
os participantes responderam um questionário para que pudessem definir a
importância de avaliar e melhorar sua condição de saúde. Depois disso, o estudo
foi conduzido para definir os participantes em dois grupos de controle: a condição de alto desconforto, em que os
participantes foram informados que o teste cardiovascular consistia em uma hora
de exercícios físicos pesados e a coleta de várias amostras de hormônios feitas
através de uma enfermeira – coleta descrita como “muito dolorosa”; enquanto que
na condição de baixo desconforto, o
teste consistia de uma hora relaxante (como ler um jornal ou um livro enquanto
estivessem deitados numa cama) sendo que a mesma coleta de hormônios seria
feita por uma enfermeira, mas, nesse caso, nada foi informado sobre dor aos
participantes dessa condição.
Os
participantes desse experimento foram alunos da Universidade de Tel Aviv e,
após receberem a informação sobre o teste cardiovascular, eles decidiriam se
queriam receber seu bônus antes ou
depois do teste ser concluído (o bônus, no caso, eram créditos extras em
seus cursos). A decisão de receber o prêmio pós-teste fazia com que o bônus se
tornasse um fator de contingência para estimular o autocontrole.
Daí
os resultados:
Essas
descobertas apoiam a teoria do CCT em que as pessoas exercem seu autocontrole
ao decidir realizar uma atividade física desagradável SE essa atividade estiver relacionada às suas metas no longo
prazo. O experimento demonstra que, sob condições específicas, as pessoas
estão dispostas a se submeterem à realização de um teste físico desagradável se
tiver como contingente uma bonificação. Os participantes poderiam ganhar o
bônus sem fazer o teste cardiovascular. No entanto, quando os resultados do
teste tinham a característica subjetiva de ser importante, foi pedido para que
a gratificação fosse condicionada à realização do teste (bonificação
pós-teste), especialmente quando ele era considerado altamente desagradável. Ao
se impor essa contingência, os participantes arriscaram perder o bônus, mas, ao
mesmo tempo, também se motivaram a realizar o teste cardiovascular mais pesado.
Vale
atentar que isso só foi verdade para os participantes que consideraram a sua
saúde como algo importante. Os participantes que não consideraram sua saúde
como algo valioso tenderam a escolher a aceitar o bônus antes do teste,
especialmente quando o teste esperado poderia ser difícil (alto desconforto). O
fato de que apenas os participantes a quem a saúde era importante expressa a
preferência de receber o prêmio depois e sustenta a hipótese de que a contingência
auto imposta foi usada como um meio para superar a tentação de desistir de um
objetivo valioso a longo prazo.
Esse
experimento podemos relacionar o risco dos investimentos com a importância da
aposentadoria, por exemplo. Vemos, na prática, que as pessoas que dão
importância à se planejarem e a cumprirem um planejamento para a aposentadoria
e que têm o perfil de investimentos mais arrojados (conservador, nessa
analogia, seria baixo desconforto e arrojado/agressivo seria alto desconforto,
diante da volatilidade dos investimentos) o que se espera é que se tenha um
retorno maior das aplicações, podendo, inclusive, aplicar dinheiro em ativos
que necessitem de maturação: algumas ações ou mesmo no mercado imobiliário
físico, por exemplo. Na ponta inversa, se o investidor for conservador (mesmo
com o quesito importância elevado) ele aceita ter um retorno menor (o bônus) em
troca de menor volatilidade.
São
questões para se pensar, concordam?
No
próximo post falaremos do terceiro experimento que trata do reforço da
importância antes de se estabelecer o compromisso com alguma
atividade/objetivo.
Até!
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