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18 de novembro de 2013

Terceiro experimento: reforçando a importância

Artigo originalmente postado em Gestor FP.

Estamos quase no final dessa jornada que estuda um pouco sobre o autocontrole. Faltam mais três experimentos (você confere o terceiro logo abaixo) para fechar a pesquisa de Trope e Fishback. Vamos lá!

De acordo com os estudos de Trope e Fishback, os dois testes anteriores (primeiro experimento e segundo experimento) investigaram as táticas que as pessoas usam para avaliar como se comprometem com uma atividade que tem benefícios no longo prazo, mas algum custo no curto prazo.

Como vimos, por um lado atividades desagradáveis diminuem a disposição para que sejam realizadas, sendo que, ao mesmo tempo, podem ativar o controle contra ativo que, mesmo as atividades sendo desagradáveis, aumenta-se a disposição para a sua realização. O terceiro estudo examinou a forma pelo qual os impactos que o reforço da importância da realização de uma atividade desagradável trariam aos participantes do experimento. As pessoas podem fazer isso pensando em como uma determinada ação poderá trazer resultados positivos através do enaltecimento da importância, do interesse, das vantagens ao desempenhar tal atividade antes de se comprometer com ela ou mesmo decidir por realiza-la.

Os procedimentos para esse experimento foram iguais aos do primeiro teste (você pode acessá-lo aqui), exceto pela definição de uma medida para o autocontrole e para o comportamento: abstinência de consumo de açúcar por 6 horas para um grupo de participantes e abstinência de 3 dias para o outro grupo de participantes. A principal diferença é que, após explicado o procedimento aos participantes e eles terem registrado a importância da realização de tal procedimento para sua saúde, introduziu-se uma simples pergunta em que o teste tinha a intenção de extrair informações comportamentais: “Você pretende realizar o teste?”. Depois disso os participantes eram dispensados.

Os resultados coletados nesse experimento reforçaram o que já se previa: os participantes avaliaram o teste de forma mais positiva quando ele durava mais tempo (no caso, o teste de 3 dias). Além disso, por haver o reforço da importância da realização do teste, observou-se que as pessoas tendem a ativar o autocontrole quando são lembradas desse aspecto, mostrando que elas estavam mais dispostas a tolerar o desconforto por mais tempo, se necessário (já que o teste era importante).

Como podemos trazer essa informação para nosso mundo financeiro pessoal? Uma ideia é manter aquilo que queremos controlar ou alcançar em nosso campo de visão ou mesmo um contato regular com a ideia.

Exemplifico. Digamos que eu tenha a intenção de comprar um carro ao final de 12 meses e que ele custe R$ 20.000,00. O meu desejo é compra-lo à vista tanto para evitar desperdício de dinheiro pagando juros quanto, até mesmo, conseguir vantagens diante de uma compra tão vultosa. Meu salário é de R$ 4.000,00 reais e, depois de fazer um diagnóstico e analisar minha situação, percebo que consigo viver muito bem com ¾ desse valor, apesar de que tenho o costume de consumi-lo quase que em sua totalidade. Faço as contas e percebo que para alcançar meu objetivo no prazo determinado terei de poupar R$ 1.500,00 mensais por, praticamente, 14 meses (aqui estou desconsiderando efeitos inflacionários ou da possibilidade de aplicação do dinheiro para gerar juros a favor). Nesse momento já dá para se perceber que terei de fazer um esforço um pouquinho maior, enxugando algumas despesas para que eu alcance meu objetivo (lógico que isso depende do padrão e estrutura de custos de vida de cada um).

Ok: fazer as contas, identificar onde cortar despesas para chegar ao meu objetivo de poupança, realizar o depósito mensal. Tudo isso é muito lindo, especialmente no princípio do processo. Mas como eu me mantenho no rumo, até meu objetivo ser alcançado? Existem diversas formas e uma delas (alinhada ao que o terceiro experimento apresentou) é, por exemplo, “namorar” o carro desejado – vez ou outra dar uma olhada no veículo em uma concessionária, ou mesmo na internet, sempre reforçando a importância de compra-lo com o condicional de que tem que ser à vista (afinal, esse é o objetivo).

Geralmente, eu trabalho bastante focado: uma coisa de cada vez (nosso cérebro não consegue executar duas tarefas ao mesmo tempo, o que ele pode fazer é alternar a atenção). Então, quando eu desejo alguma coisa (concluir um projeto de trabalho, comprar algum bem, comprar uma viagem, etc) eu deixo isso na minha frente, o tempo todo no lugar onde costumo passar a maior parte do tempo. Quando bate aquela sensação de desânimo, olho para a foto, para a colagem (ou qualquer coisa que tenha o efeito de chamar minha atenção para meu objetivo) e lembro do quão seria importante ter ou alcançar aquilo que eu determinei. Ou seja: constantemente eu reforço a importância de alcançar a minha meta, seja qual for – diante disso consigo manter os meus esforços para chegar lá.

No próximo post falaremos sobre o quarto experimento que procurou avaliar se os esforços de autocontrole têm uma função não monotônica (nome esquisito, né?! Mas lá eu explico)


Até!

4 de novembro de 2013

Segundo experimento: o fator recompensa

Artigo originalmente postado em Gestor FP.

O primeiro estudo avaliou a disposição dos participantes a sofrerem uma penalidade caso falhassem na abstinência para a realização do exame médico; o segundo estudo avaliou a disposição dos participantes em cumprir o teste recebendo uma bonificação, um prêmio, ao invés de uma multa. Esse experimento teve como objetivo verificar se o desconforto temporário de uma atividade provocaria esforços de autocontrole quando a falha para executar tal atividade ameaçaria a realização de uma importante meta de longo prazo.

Os participantes se ofereceram para um estudo de doenças no coração e, como parte desse estudo, teriam que realizar um teste cardiovascular. Esse teste foi descrito como podendo ter baixo ou alto grau de desconforto físico. Também foi dito aos participantes que, caso cumprissem o teste, receberiam um bônus por ter feito parte do estudo. A grande questão era se os participantes fariam com que a bonificação, o prêmio, se tornasse o motivo para completarem o teste.

Primeiro os participantes responderam um questionário para que pudessem definir a importância de avaliar e melhorar sua condição de saúde. Depois disso, o estudo foi conduzido para definir os participantes em dois grupos de controle: a condição de alto desconforto, em que os participantes foram informados que o teste cardiovascular consistia em uma hora de exercícios físicos pesados e a coleta de várias amostras de hormônios feitas através de uma enfermeira – coleta descrita como “muito dolorosa”; enquanto que na condição de baixo desconforto, o teste consistia de uma hora relaxante (como ler um jornal ou um livro enquanto estivessem deitados numa cama) sendo que a mesma coleta de hormônios seria feita por uma enfermeira, mas, nesse caso, nada foi informado sobre dor aos participantes dessa condição.

Os participantes desse experimento foram alunos da Universidade de Tel Aviv e, após receberem a informação sobre o teste cardiovascular, eles decidiriam se queriam receber seu bônus antes ou depois do teste ser concluído (o bônus, no caso, eram créditos extras em seus cursos). A decisão de receber o prêmio pós-teste fazia com que o bônus se tornasse um fator de contingência para estimular o autocontrole.


Daí os resultados:


Essas descobertas apoiam a teoria do CCT em que as pessoas exercem seu autocontrole ao decidir realizar uma atividade física desagradável SE essa atividade estiver relacionada às suas metas no longo prazo. O experimento demonstra que, sob condições específicas, as ​​pessoas estão dispostas a se submeterem à realização de um teste físico desagradável se tiver como contingente uma bonificação. Os participantes poderiam ganhar o bônus sem fazer o teste cardiovascular. No entanto, quando os resultados do teste tinham a característica subjetiva de ser importante, foi pedido para que a gratificação fosse condicionada à realização do teste (bonificação pós-teste), especialmente quando ele era considerado altamente desagradável. Ao se impor essa contingência, os participantes arriscaram perder o bônus, mas, ao mesmo tempo, também se motivaram a realizar o teste cardiovascular mais pesado.

Vale atentar que isso só foi verdade para os participantes que consideraram a sua saúde como algo importante. Os participantes que não consideraram sua saúde como algo valioso tenderam a escolher a aceitar o bônus antes do teste, especialmente quando o teste esperado poderia ser difícil (alto desconforto). O fato de que apenas os participantes a quem a saúde era importante expressa a preferência de receber o prêmio depois e sustenta a hipótese de que a contingência auto imposta foi usada como um meio para superar a tentação de desistir de um objetivo valioso a longo prazo.

Esse experimento podemos relacionar o risco dos investimentos com a importância da aposentadoria, por exemplo. Vemos, na prática, que as pessoas que dão importância à se planejarem e a cumprirem um planejamento para a aposentadoria e que têm o perfil de investimentos mais arrojados (conservador, nessa analogia, seria baixo desconforto e arrojado/agressivo seria alto desconforto, diante da volatilidade dos investimentos) o que se espera é que se tenha um retorno maior das aplicações, podendo, inclusive, aplicar dinheiro em ativos que necessitem de maturação: algumas ações ou mesmo no mercado imobiliário físico, por exemplo. Na ponta inversa, se o investidor for conservador (mesmo com o quesito importância elevado) ele aceita ter um retorno menor (o bônus) em troca de menor volatilidade.

São questões para se pensar, concordam?

No próximo post falaremos do terceiro experimento que trata do reforço da importância antes de se estabelecer o compromisso com alguma atividade/objetivo.

Até!